Queimadas e ajuda

É preciso agir contra o desmatamento, prevenindo e combatendo incêndios, sem que a questão se torne a ponta de lança de discussões ideológicas

Por: Da Redação  -  28/08/19  -  12:09

Após declarar que não aceitaria a ajuda financeira dos países do G-7 para enfrentar as queimadas que acontecem na Amazônia, o presidente Jair Bolsonaro mudou sua posição ontem e declarou que poderia receber o montante de US$ 20 milhões ofertados (cerca de R$ 83 milhões), desde que o presidente francês, Emmanuel Macron, pedisse desculpas por tê-lo chamado de "mentiroso" e retirasse as declarações que fez defendendo que à região fosse atribuído estatuto internacional.


A questão segue tensa e complexa, com sérios desdobramentos diplomáticos e econômicos. Um ponto é inequívoco: as queimadas são reais, e vem crescendo em ritmo acelerado, e mais que dobraram nos últimos seis anos. É preciso agir contra o desmatamento, prevenindo e combatendo incêndios, sem que a questão se torne a ponta de lança de discussões ideológicas que não contribuem para a solução do problema.


A politização extrema está em curso. Bata notar que houve a aceitação da ajuda de Israel, e foi anunciado que o combate se fará com o apoio dos Estados Unidos, aliados políticos do atual governo, enquanto se rejeita o auxílio do G-7 e descartam-se as doações de países como a Noruega e a Alemanha, financiadores do Fundo Amazônia. Neste caso, os valores são muito significativos: até o momento cerca de US$ 1,3 bilhão foram recebidos, com pouco menos da metade do valor já desembolsado.


A ajuda emergencial de US$ 20 milhões não é desprezível, na medida em que representa três vezes mais do que o valor que foi destinado pelo governo às Forças Armadas para combater as queimadas. Não se justificam, portanto, as recusas, acompanhadas de afirmações grosseiras, que só agravam a questão, atingindo a primeira-dama francesa, Brigitte Macron, ou declarar que o dinheiro deveria ser destinado a "reflorestar a Europa". Pior ainda foi o comentário do ministro-chefe da Casa Civil, Ony Lorenzoni, que a França não conseguiu impedir o incêndio na Igreja de Notre Dame, em Paris, e a agressividade do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que, em sua conta no Twitter, chamou Macron de "cretino", e "calhorda a serviço do lobby agrícola francês".


As relações internacionais devem se pautar pelo respeito mútuo. A escalada de acusações traz consequências, e o Brasil pode perder bilhões se insistir em sua postura unilateral e agressiva. Destaque-se ainda que essa atitude fortalece posições do protecionismo europeu, na defesa dos seus interesses agrícolas, que são contrários ao Acordo entre o Mercosul e a União Europeia.


O confronto não interessa ao Brasil. É preciso reduzir a tensão atual, e promover entendimento e reconciliação. O fundamental é enfrentar o problema, e reduzir o desmatamento na Amazônia. Isso não se faz com palavras duras e agressivas, e sim com ações concretas e com trabalho permanente. 


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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