Queda nos royalties

A redução da produção em 10 milhões de barris diários, decidida recentemente pela Opep e pela Rússia, com apoio dos Estados Unidos, não foi suficiente para evitar o derretimento dos preços

Por: Da Redação  -  23/04/20  -  10:39

A queda na demanda de petróleo em todo o mundo, consequência da crise provocada pela pandemia da covid-19, derrubou os preços internacionais. Nesta semana, investidores pagaram para não receber o óleo, levando o WTI, referência no mercado norte-americano, à cotação negativa de US$ 37,63 por barril, o que, na prática, significa que eles estão pagando para se livrar da obrigação de receber o produto no vencimento.


Alguns especialistas avaliam que esse colapso é pontual e será logo superado. Mas não há dúvida que a crise é ampla e global: no segundo trimestre, a queda na demanda é estimada em 30 milhões de barris por dia, cerca de 30% da produção mundial. O preço do petróleo Brent, referência em todo o planeta, caiu abaixo de US$ 20 por barril pela primeira vez desde 2002, indicando prejuízos generalizados.


A redução da produção em 10 milhões de barris diários, decidida recentemente pela Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep) e pela Rússia, com apoio dos Estados Unidos, não foi suficiente para evitar o derretimento dos preços, e as perspectivas, já assumidas pelo mercado, são que eles ficarão ao redor de US$ 25, que é insuficiente, em muitos casos, para cobrir os custos de produção.


A Petrobras é diretamente afetada. Com preços dos derivados de petróleo reduzidos (a gasolina caiu 52,6% neste ano, embora nas bombas o corte tenha sido bem menor, em média de 10,16%), sua receita despenca e, com a demanda internacional menor, suas exportações também caíram. A estatal já determinou o corte de 200 mil barris diários de sua produção, e poderá ser obrigada a reduzi-la ainda mais.


Sofrem também os investimentos e a situação financeira da empresa, cujos planos de redução de ativos e diminuição do endividamento serão afetados. Destaque-se que, embora a Petrobras possa conviver com o petróleo até US$ 25, os novos investimentos só são viáveis com o barril a US$ 35.


As regiões produtoras, como é o caso do Espírito Santo e do Rio de Janeiro, e o norte do litoral paulista, terão perdas significativas em suas arrecadações de royalties e participações especiais, contribuições pagas pelas empresas com base na quantidade extraída e no preço do petróleo. Com menos óleo, a valores muito mais baixos, o Espírito Santo estima que receberá neste ano R$ 1,33 bilhão a menos em receitas com esses direitos, enquanto o Rio de Janeiro, em março, quando começou a queda de preços no mercado internacional, projetou que sua arrecadação cairia de R$ 14,3 bilhões para R$ 10 bilhões, e agora estima perda ainda maior. R$ 400 milhões dos recursos recebidos no Espírito Santo são destinados a custeio e terão que ser contingenciados.


O cenário é muito negativo e preocupante. Haverá recuperação no médio e longo prazo, mas os efeitos agora serão profundos e graves. 


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