Protestos no Chile

Milhares de pessoas estão se reunindo em Santiago, no Chile, para criticar aumento das tarifas do metrô

Por: Da Redação  -  14/03/20  -  20:48

Milhares de pessoas tem se reunido em Santiago, no Chile, e na última semana houve o maior protesto do ano contra o governo do presidente Sebastián Piñera. O movimento foi desencadeado a partir de outubro de 2019, a partir do aumento das tarifas do metrô da capital chilena, e cresceu até dezembro, provocando uma crise social sem precedentes no país. Após trégua em janeiro e fevereiro, os protestos voltaram com força, sendo registrados confrontos com a polícia, com 300 pessoas detidas e 76 policiais feridos. Desde outubro, já houve 31 pessoas mortas. 


A grande pergunta que se faz é a razão da grande insatisfação do povo chileno. Destaque-se que o PIB per capita mais que triplicou entre 1995 e 2018, a desigualdade caiu, mais do que no Brasil entre 2000 e 2016, e o país conquistou o mais alto Índice de Desenvolvimento Humano da América Latina. Mesmo assim, o povo foi, e continua indo, para as ruas para protestar com força. 


Analistas consideram que as pessoas percebem os resultados do modelo de desenvolvimento adotado de forma diferente do que mostram os indicadores econômicos. No Índice de Qualidade de Vida da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Chile está na 34ª posição (entre 40 países), apenas uma à frente do Brasil, cuja renda per capita é 37% inferior.


O Chile vai mal em vários indicadores que compõem esse índice, e fica abaixo do Brasil em meio ambiente, saúde, satisfação com a vida, comunidade e engajamento cívico (item em que os chilenos estão em último lugar). A população está descontente com o atual modelo vigente, e os protestos visam, sem dúvida, mudar a forma como o país funciona.


A função das políticas públicas é, além de resolver problemas estruturais ligados à condição econômica de vida das populações, proporcionar a elas qualidade de vida, no sentido amplo da palavra. Há estudos feitos em países ricos, cuja situação é diferente da realidade dos países emergentes, mas que servem como parâmetros para avaliar o que as pessoas desejam em relação ao presente e ao futuro.


Dentre oito fatores que podem impactar a felicidade humana, o aumento da renda aparece em quinto lugar. Ter um parceiro, gozar de saúde física, possuir um trabalho de boa qualidade e, principalmente, ter saúde mental despontam como mais importantes. No caso chileno, as pessoas discordam do modelo vigente, e espera-se que a saída institucional seja a aprovação, por grande maioria, da reforma da Constituição do país, tema que será submetido em consulta nacional no próximo dia 26 de abril.


A nova Constituição abre perspectivas para construir uma sociedade mais igualitária, com papel mais ativo do Estado em áreas como saúde e educação. A pacificação do país é necessária, e o povo tem dado seu recado, de maneira intensa e dramática.


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