Protestos no Chile

Até domingo (20), 1.462 pessoas haviam sido presas, com atos de violência contra estações do metrô, causando prejuízos que superam US$ 300 milhões

Por: Da Redação  -  22/10/19  -  19:58

A onda de protestos que atinge o Chile assumiu proporções alarmantes. O país está literalmente parado, com o comércio fechado, aulas nas escolas suspensas, toque de recolher decretado. Aconteceram saques em supermercados e até mesmo em residências particulares, e houve pelo menos 11 mortes. Até domingo, 1.462 pessoas haviam sido presas, com atos de violência contra estações do metrô, causando prejuízos que superam US$ 300 milhões. Ônibus foram queimados e dezenas de concessionárias e pedágios saqueados e também incendiados.  


O estopim da revolta foi o aumento na tarifa do metrô, decretado pelo governo do presidente Sebastián Piñera. O percentual aplicado – apenas 3,75% – representado uma elevação de apenas R$ 0,17 na passagem não explica, porém, a intensidade dos protestos que vêm acontecendo. Assim como em 2013 no Brasil, quando grande movimento de massas aconteceu a partir do reajuste nos preços das tarifas de ônibus, embora sem a violência registrada no Chile, os protestos têm causa mais profunda. 


Há nítida insatisfação da população. As baixas aposentadorias e o alto custo de vida, além da precariedade da saúde e da educação, são razões que levaram os manifestantes às ruas. Outro ponto a destacar, que guarda semelhança com o que aconteceu nos últimos anos no Brasil, é a revolta dos chilenos em relação a recentes escândalos de corrupção, que envolvem policiais e membros do Exército, os mesmos que estão reprimindo os protestos. 


A situação é tensa há algum tempo. Isso vem desde 2011, quando estudantes realizaram grandes manifestações na defesa da educação universitária gratuita. No fundo, há o panorama social adverso: segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o Chile é o país mais desigual entre aqueles que compõem a Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Econômico (OCDE). Atualmente, 1% da população concentra 33% da riqueza nacional, e 0,1% ficam com 19,5% de tudo que o país produz.  


A revolta do metrô é, portanto, a gota d´água que desencadeou a revolta. Isso traz um alerta, uma vez que o Chile tem tido crescimento econômico destacado no continente (seu PIB deve aumentar 2,5% em 2019), mas incapaz de resolver desigualdades regionais e sem efeitos para a maioria, que recebe salários baixos, insuficientes para enfrentar o alto custo de vida. 


Piñera revogou o aumento das tarifas do metrô, mas isso não foi suficiente para conter o movimento, que se alastrou fortemente no último final de semana, e fez com que o exército fosse colocado nas ruas, fato que não acontecia desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990. O quadro é difícil e exige soluções, que passam por restabelecer a confiança abalada, tarefa muito complicada no atual momento, mas que deve ser buscada com determinação pelo governo.  


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