Professores estão esgotados

Dados do Departamento de Perícias Médicas do Estado revelaram que, em 2018, 53.276 licenças foram concedidas a professores da rede estadual devido a transtornos mentais e comportamentais

Por: Da Redação  -  25/10/19  -  12:05
Atualizado em 25/10/19 - 12:13

Dados do Departamento de Perícias Médicas do Estado, ligado às Secretarias da Fazenda e do Planejamento, revelaram que, em 2018, das 129.045 licenças concedidas a professores da Educação Básica da rede estadual de ensino, 53.276 (41,28% do total) ocorreram devido a transtornos mentais e comportamentais. Na Baixada Santista, essas causas tiveram impacto ainda maior e foram responsáveis por 44,19% dos afastamentos: 5.525 docentes apresentaram problemas como ansiedade, depressão ou síndrome do pânico. Neste ano, até agosto, já foram concedidas 1.327 licenças médicas nessas condições.


Não se pode atribuir todos os casos ao exercício da profissão. Há situações pessoais que desencadeiam distúrbios emocionais, e problemas de ansiedade e depressão são altos no Brasil. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgados em 2017, 5,8% da população nacional sofria de depressão, o que representava, à época, 11,5 milhões de pessoas, enquanto 9,3% viviam problemas de ansiedade (18,6 milhões de pessoas em números absolutos). Desigualdade social, pobreza, traumas na infância, crise econômica e violência nas grandes cidades são apontados por especialistas como causas dos distúrbios, além de dificuldades pessoais para lidar com a perda, o sofrimento e a dor.


É indiscutível, porém, que as condições de trabalho dos professores nas escolas públicas expõem-nos a situações adversas e extremas. Há relatos frequentes de insubordinação e até de violência contra docentes, com atos de desobediência e desrespeito. A escola, que deveria ser espaço de convívio e descoberta do mundo, marcada pela conquista do conhecimento, se torna um ambiente hostil e agressivo, que deixa professores expostos a constrangimentos diários, além de impedir que eles consigam cumprir suas tarefas básicas nas salas de aula.


Além disso, os baixos salários e a falta de vínculos estáveis e permanentes que os professores enfrentam, obrigando-os a trabalhar em várias escolas, em diferentes turnos, aumentam o grau de cansaço e estresse que, não raro, se transforma em distúrbios emocionais graves. 


Trata-se de problema sério que exige soluções. De um lado, é preciso assegurar melhores condições de trabalho aos professores, valorizando a função e resgatando sua autoestima. Isso se faz com ações concretas, investindo em salários, treinamento e preparo para o exercício docente. Mas o fundamental é tornar as escolas espaços vivos de interesse, alegria e disposição de aprender: nesse ponto, o papel das famílias é grande, mas também exige reformulação das técnicas e métodos, de modo a aumentar o interesse dos alunos por aulas e atividades que são desenvolvidas, como se pretende que aconteça com a Base Nacional Curricular Comum (BNCC), que será implantada a partir do próximo ano.


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