Produção industrial cai

A indústria continua enfrentando muitos problemas no Brasil. Dados referentes a 2019 mostram que houve queda de 1,1% na produção industrial, após dois anos de crescimento (2,5% em 2017 e 1% em 2018). Pesou bastante o desastre ocorrido em Brumadinho, que fez com que a indústria extrativa recuasse 9,7% no ano, o pior resultado em 16 anos. Mas a indústria de transformação também teve desempenho inferior às expectativas, avançando apenas 0,2% em 2019.

Das 25 atividades desse ramo da indústria, 15 recuaram, confirmando que os problemas estão disseminados, com a crise instalada há muitos anos. Basta notar que, em 2004, a indústria de transformação representava 17,8% do PIB nacional, recuando para 11,1% em 2019, considerados dados até o terceiro trimestre. 

Em dezembro, a atividade industrial caiu 0,7% na comparação com novembro, e quanto ao mesmo mês de 2018, a queda foi ainda maior - 1,2%. Com isso a produção do País ficou 18% abaixo do maior nível alcançado pelo setor, em maio de 2011, repetindo o mesmo patamar de junho de 2004, mais de 15 anos atrás.

Há muitas dificuldades: as exportações brasileiras de manufaturados se destinam, em sua maioria, à Argentina, que enfrenta grave recessão; falta competitividade aos produtos nacionais no mercado externo, consequência das deficiências de formação da mão de obra, da complexidade do sistema tributário e da precariedade da infraestrutura.

Mesmo com cenário econômico mais favorável, com queda na taxa de juros e câmbio mais desvalorizado, a indústria brasileira não consegue competir no exterior e ampliar sua participação no mercado interno. O volume importado cresceu 2,4% em 2018, segundo o Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), e a produção industrial doméstica recuou 1,1%. De 30 setores econômicos, houve alta dos importados em 20 deles.

As previsões para 2020 não indicam resultados promissores. A estimativa de crescimento do setor varia, mas já é consenso que o cenário internacional turbulento - guerra comercial entre China e Estados Unidos, epidemia global de coronavírus, recessão na Argentina - pode comprometer as chances de avanços mais expressivos da indústria brasileira.

Há muito tempo fala-se que falta política industrial no País. Isso não significa subsídios, isenções fiscais ou socorro emergencial, e sim buscar resolver as questões que levam à baixa produtividade do setor, como melhorar a educação, promover a reforma tributária e investir na infraestrutura, de modo a permitir avanços efetivos. Há mudanças estruturais em curso que explicam a queda da indústria em todo o mundo, mas isso pode ser minimizado com ações efetivas, e países em desenvolvimento, como o Brasil, precisam de indústria forte e competitiva, capaz de gerar empregos e renda.