Os planos do Grupo Cosan para investir US$ 2 bilhões com parceiros em gasodutos no pré-sal paulista é de suma importância não só para a economia da região e do Estado como para o meio ambiente. Seu desenvolvimento envolve uma mudança drástica da matriz energética com o uso disseminado do gás natural. Além da vantagem logística, com as reservas abundantes a 300 quilômetros de distância da costa, o produto está próximo de um dos maiores mercados consumidores do Hemisfério Sul, tanto para o uso residencial como para o comercial, principalmente parques industriais, incluindo Cubatão, São Paulo, São José dos Campos e Campinas.
A rede de dutos chamada de Rota 4 tem dois braços, um de 275 quilômetros de extensão, partindo de Praia Grande em direção aos campos do pré-sal e de lá com mais 319 quilômetros até o Porto de Itaguaí (RJ). Depois haverá a integração com as rotas 1, 2 e 3 da Petrobras, já em operação. A capacidade de escoamento é de 21 milhões de metros cúbicos por dia, acima dos 15 milhões em média importados da Bolívia no ano passado. O projeto não é de curto prazo, já estava nos planos da Cosan há alguns anos e continua em fase de licenciamento, sendo aguardado para sair do papel no final desta década, conforme A Tribuna publicou na edição de domingo.
A vantagem de haver um empreendimento de gás natural não é apenas a atração de recursos gigantescos para sua instalação ou os royalties que serão gerados. A migração para a matriz do gás natural vai exigir a adaptação ou troca de equipamentos, principalmente nas indústrias. Por outro lado, a implantação de um novo sistema impõe desafios. As empresas precisam ter a certeza que o insumo não vai faltar. Será necessário uma rede ampliada de dutos e não haver riscos de interrupção do abastecimento, como já se temeu em relação à Bolívia. A exploração de gás na Bacia de Santos reduzirá ao longo do tempo essa possibilidade.
O modelo que aos poucos se delineia para o pré-sal paulista é animador, porque está baseado na iniciativa privada. A Petrobras decidiu se concentrar no polo Libra-Lula, que é a porção da Bacia de Santos próxima do Rio de Janeiro, e passou a vender seus campos para petrolíferas estrangeiras, conforme A Tribuna também publicou nas últimas semanas. O investimento pulverizado pode ser uma garantia de que os projetos continuarão sendo tocados. Também se deve reconhece o esforço do Governo do Estado para viabilizar os empreendimentos a partir de contatos já feitos com as petroleiras.
Depois da decepção com a primeira onda do pré-sal na região, surge nova oportunidade de negócios, desta vez sem expectativas exageradas e de forma gradual. Além da exploração em alto-mar e da instalação de gasodutos, as empresas já sinalizam investimentos para apoio em terra que vão do Litoral Norte até Santa Catarina. Essa chance não pode ser desperdiçada.