Poupança e consumo na pandemia

Com educação financeira e mais competição, as expectativas são positivas para os brasileiros

Por: Da Redação  -  08/07/20  -  14:13

O recorde dos depósitos da caderneta de poupança em junho em plena pandemia são reflexo da preocupação do brasileiro com o futuro. Como as previsões são de que a recessão ou no mínimo a estagnação da economia deve atravessar o próximo ano, o que inclui risco de perder o emprego, o investidor prefere guardar dinheiro e adiar o consumo. Um movimento que é o mais recomendado individualmente, mas que é péssimo para uma característica específica do Brasil, diferentemente, por exemplo, da China. Aqui, ao invés dos investimentos na economia real, o motor do crescimento é o consumo das famílias, o que explica o elevado endividamento seguido de inadimplência. 


O mais curioso é que a aplicação mais popular do País, que registrou depósitos líquidos (descontados os saques) de R$ 20 bilhões em junho, tem rentabilidade irrisória de 1,575% ao ano. Ela perde para todos os índices de inflação, inclusive o mais abrangente e utilizado pelo governo, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 1,88% nos últimos 12 meses. Na prática, os juros reais estão negativos - descontando a inflação, o poupador vê seu patrimônio se desvalorizar. Por isso, a cada 30 dias, a B3, a antiga Bovespa, ganha 200 mil novos investidores. São pessoas que buscam ganho melhor frente à baixa rentabilidade da renda fixa, reflexo da Selic de 2,25% ao ano.


Por outro lado, os juros baixos são um estímulo para quem precisa de crédito de longo prazo para comprar a casa própria. Segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), o financiamento com recursos da caderneta para aquisição de moradias cresceu 8,2% em maio, na comparação com igual mês do ano passado, um avanço em plena pandemia atribuído aos juros baixos. Portanto, a queda das taxas, apesar de desagradar o poupador clássico, faz muito bem ao País. Trata-se de tremenda vantagem econômica, considerando-se os atuais tempos de impacto da covid-19. Como o momento é recessivo, não há condições para a inflação voltar a aumentar, o que permite a manutenção dos juros em níveis contidos.


Essa política monetária (manter a taxa Selic em patamar baixíssimo) aos poucos deve ser assimilada pelo sistema bancário, barateando as linhas de crédito em geral, principalmente as oferecidas às empresas. A queda de grandes proporções, entretanto, depende do Banco Central acertar em suas iniciativas de aumentar a concorrência entre as instituições. Esse mercado é controlado por três grandes bancos privados e dois estatais, agora desafiados por inovações das fintechs (startups do setor financeiro), por novos meios de pagamento e transferência de recursos, estes com impacto direto nas tarifas bancárias, e por pequenos bancos que oferecem investimentos com melhores taxas. Com educação financeira e competição, as expectativas são positivas para os brasileiros, pelo menos na área bancária. 


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter