Por uma agenda positiva, presidente

Jair Bolsonaro move-se baseado em convicções próprias, que nunca escondeu, e não controla suas palavras e declarações

Por: Da Redação  -  01/08/19  -  12:16

Em entrevista ao jornal O Globo, ao referir-se a uma série de declarações agressivas que fez nos últimos dias, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que não irá mudar seu estilo e que não há uma estratégia eleitoral por trás das controvérsias. A radicalização tem caracterizado a postura presidencial: entre outros comentários, atacou os jornalistas Miriam Leitão e Glenn Greenwald, e desqualificou o Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe), contestando dados de desmatamento na Amazônia. Chamou ainda os governadores do Nordeste de "paraíbas", disse que no País não havia fome e atacou o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, referindo-se ao desaparecimento de seu pai durante o regime militar. 


Todas essas afirmações foram contestadas, provocando profundo desconforto em setores do governo, como a área militar, e levando a reações contrárias de aliados do presidente, como o governador de São Paulo, João Dória, que se referiu às declarações de Bolsonaro no caso do pai do presidente da OAB como infelizes e inaceitáveis, destacando que "não é a hora do País ter a política do ódio".


Há avaliações que consideram que integrantes da ala ideológica têm conseguido influenciar o presidente de forma mais assertiva, e ela estaria principalmente na área de comunicação digital, sob a grande influência de seu filho Carlos Bolsonaro. Na realidade, porém, nota-se que, mais do que uma estratégia, o presidente move-se baseado em convicções próprias, que nunca escondeu, e não controla suas palavras e declarações.


Essa postura é inadequada e não contribui para o desenvolvimento nacional. O presidente não governa para uma minoria radicalizada, e precisa estabelecer um padrão de comportamento compatível com a função que exerce. Deve ser destacado que Bolsonaro não foi eleito por suas teses extremamente conservadoras, e sim por representar a alternativa capaz de promover mudanças econômicas, realizando reformas estruturais, ao mesmo tempo em que combater a corrupção e reduzir a violência e a insegurança.


Esta é pauta positiva que o presidente parece esquecer, ou pelo menos deixar de lado, privilegiando temas menores e dando a eles tratamento repleto de erros, preconceitos e análises precipitadas. Agindo desta forma ele pode perder o capital político que conquistou nas eleições de 2018, e comprometer a verdadeira agenda que o País exige. O diálogo com a sociedade e com o Congresso precisa ser retomado, de modo claro e propositivo. A reforma da Previdência ainda não foi concluída - haverá mais uma votação na Câmara e a tramitação no Senado - e não interessa a ninguém acirrar os ânimos e provocar reações de oposição.


Insistir nos ataques é isolar a Presidência e comprometer, de maneira irremediável, o futuro do Brasil.


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