Polêmica rumo à embaixada

Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, ao ser indicado para a embaixada de Washington revela uma suspeita de nepotismo

Por: Da Redação  -  14/07/19  -  14:20

A possível nomeação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) pelo próprio pai, para comandar a embaixada de Washington, é totalmente dispensável. O chamado filho 03 do presidente não tem aptidões para ocupar o cargo, como experiência comercial internacional ou formação diplomática e nem isenção para negociar pelo país com republicanos e democratas. Entre as aptidões do parlamentar, Jair Bolsonaro lembrou que Eduardo é amigo da família de Donald Trump. Seguidores bolsonaristas acham seriamente que Trump, em retribuição, deveria indicar o filho Eric para ser embaixador americano no Brasil.


As próprias explicações dos Bolsonaro lançam desconfianças sobre o equilíbrio dessa ideia. Em entrevista, o parlamentar disse ter “vivência no mundo” devido às viagens que fez ao exterior, que participou de intercâmbio, conhece Maine e Colorado e até já fritou hambúrguer em terras norte americanas. Na Câmara, é presidente da Comissão de Relações Exteriores, e, por ter feito 35 anos recentemente, atende exigência etária para ser embaixador.


O próprio presidente, em sua argumentação, não ajuda muito. Disse que Eduardo fala inglês e espanhol. O pai Bolsonaro demonstra desconhecimento do mundo diplomático. Além de lidar com republicanos e democratas hoje em pé de guerra, o filho embaixador terá que defender o agronegócio brasileiro, acusado de abusar de agrotóxicos e hormônios e de crescer em detrimento da Amazônia.


Há ainda a personalidade polêmica de Eduardo. No Brasil, teve que se retratar de vídeo divulgado no ano passado em que sugeria fechar o Supremo Tribunal Federal (STF). Trata se de perfil incomum para um embaixador, geralmente discreto e que não se envolve em debates políticos, exceto se for por ordem presidencial.


A indicação, que depende do aval do Senado, enfrenta a suspeita de nepotismo. O presidente alega que o STF não considera essa possibilidade quando se trata de nomeação de familiares para natureza política. O argumento é frágil, a começar que nem todos acham o posto de embaixador político, visto que há uma instituição específica para formar pessoal habilitado, o Rio Branco.


O STF já permitiu que governadores do Paraná e Ceará indicassem irmãos para o secretariado, mas há caso pendente sem data para ser analisado. Fora essa questão, está claro que Eduardo poderá virar embaixador por ser filho do presidente.


Fala do ex-embaixador em Washington Rubens Ricupero resume a repercussão do caso: “trata-se de uma medida sem precedentes em nossa tradição diplomática de países civilizados e democráticos”. Porém, Bolsonaro não está preocupado com a tradição. Desconfiado até dos aliados mais próximos, o presidente se cerca o máximo que pode de pessoas de confiança. Por isso, comprará a briga para manter o filho em Washington.


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