Na primeira entrevista coletiva após a demissão do ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta foi visível a mudança de rumo do Governo Federal. O novo titular da pasta, Nelson Teich, reafirmou que é impossível que o País sobreviva a mais de um ano parado - referindo-se ao tempo necessário para a produção de vacina e o fato que não haveria crescimento explosivo da doença - e defendeu a construção de um plano de saída do isolamento social em Estados e Municípios. Afirmou ainda que o Brasil tem bom desempenho entre os países que registraram mortes pela covid-19, sem considerar que a grande subnotificação.
A novidade foi a apresentação, pelo ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, de programa para dar "sinergia" às diferentes ações adotadas pelos diferentes ministérios para dar respostas à crise econômica atual. Denominado de programa "Pró-Brasil", visa promover investimentos e assim gerar crescimento, com geração de empregos e renda.
Chamou a atenção no anúncio do Plano a ausência do ministro da Economia, Paulo Guedes que, de acordo com analistas, teria restrições a ele, apontando que não foram consideradas restrições fiscais, não só dadas pelo teto de gastos, como pelo crescente endividamento do País diante das medidas que vêm sendo tomadas de auxílio emergencial a trabalhadores e empresas.
Segundo o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, o Pró-Brasil prevê R$ 30 bilhões de investimentos públicos e R$ 250 bilhões em contratos de concessões à iniciativa privada até 2022, e o foco é gerar mais de 1 milhão de empregos. Bem ao estilo militar, o programa, que será estruturado entre maio e julho e finalizado entre agosto e setembro, foi dividido em duas vertentes: Ordem (voltando à segurança jurídica para concessões) e Progresso (obras com investimentos públicos).
A avaliação é que Braga Netto reestruturou rapidamente a Casa Civil e já ocupa o papel de articular político e estrategista do governo. Para enfrentar a pandemia da covid-19 foram definidos três eixos: dissolver conflitos internos; reconquistar o controle da comunicação sobre a administração da crise; e reduzir o poder de fogo dos adversários e opositores.
O Plano "Pró-Brasil" é a materialização dessa ofensiva. Deixa de lado as discussões sobre saída do isolamento social e uso de cloroquina e parte para medidas concretas de retomada da economia, não limitadas à simples abertura do comércio. No plano político, as articulações com o Centrão, apesar de desagradarem setores bolsonaristas, estão evoluindo e prosperando.
Resta saber qual será o comportamento do presidente Jair Bolsonaro nesse quadro. Seu estilo personalista e que busca o conflito pode comprometer o trabalho e a iniciativa dos militares, sob a liderança de Braga Netto. Os próximos dias serão decisivos a respeito.