Pandemia avança entre mais pobres

Taxa de letalidade nos bairros mais pobres de Santos é 3,3 vezes maior do que nas outras regiões

Por: Da Redação  -  29/04/20  -  19:14

Cresce, em todo o mundo, a preocupação com o crescimento de casos da Covid-19 na população mais pobre e desassistida dos serviços de saúde. A maior letalidade entre negros e latinos nos Estados Unidos confirma sua maior vulnerabilidade, e no Brasil, país de elevada desigualdade, a situação ainda é mais aflitiva. Especialistas alertam que é a primeira vez que uma epidemia de grande proporção se dissemina em um país continental com enormes desigualdades sociais e regionais. 


Os mais pobres dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS). Destaque-se que, apesar do subfinanciamento do sistema, marca de todos os governos que vem se sucedendo no Brasil, é ele - com seu pessoal técnico, composto por médicos, enfermeiros, profissionais da saúde e assistência social, além dos funcionários administrativos - que vem, com esforço e dedicação, enfrentando a difícil situação atual.


Enquanto no Reino Unido todos os pronunciamentos oficiais, do primeiro-ministro a autoridades de saúde destacam, com faixas e cartazes, o NHS (National Health Service) como fundamental para o combate à Covid-19, aqui pouco ou nada se fala sobre o trabalho diário, anônimo e decisivo do SUS. Ainda assim, sabe-se que isso não será suficiente se a escalada do vírus continuar, atingindo picos nas próximas semanas. 


Em Santos, os números confirmam esse quadro. Embora as infecções estejam concentradas mais na zona da orla, as mortes vêm acontecendo nas regiões mais pobres. O contágio começou entre pessoas de renda mais alta, mas elas têm tido acesso à rede privada, com planos de saúde e assistência médica mais completa e eficiente. Na semana passada, levantamento realizado por A Tribuna constatou que apenas 25,8% dos óbitos ocorreram em pacientes residentes em bairros da orla.


A taxa de letalidade nos bairros mais pobres da cidade é 3,3 vezes maior do que as outras regiões. Isso coloca pressão maior na melhoria do atendimento público a esses pacientes, e também destaca os problemas enfrentados por essas populações, com muito mais dificuldade para cumprir o isolamento social (tendo em vista a alta concentração de pessoas nos domicílios em que vivem) e manter hábitos de higiene indispensável (em razão da condição social).


O quadro se repete em outras cidades da região, e o vírus se espalha, de modo muito mais letal, nas áreas onde vivem os mais pobres. Embora o quadro da assistência hospitalar, com número de leitos de UTIs, ainda seja capaz de atender a demanda, é preciso atenção máxima.


Diferenças sociais levam a mais doenças crônicas, pouco cuidadas, e deixam aqueles de menor renda mais expostos a quadros graves da Covid-19, e exigem tratamento intensivo rápido e eficiente. Esse é o grande desafio atual, que precisa ser enfrentado pelas autoridades de saúde.


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