Outro trilhão de Paulo Guedes

A desestatização, como defende o ministro da Economia, equivale a um processo de reeducação econômica profundo

Por: Da Redação  -  16/07/19  -  11:56

Assim como fixou R$ 1 trilhão como meta de redução de gastos com a reforma da Previdência, o ministro da Economia, Paulo Guedes, também esperava arrecadar R$ 1 trilhão em privatizações até 2022. Análises mais realistas, de bancos e do jornal O Estado de S. Paulo, estimam de R$ 400 bilhões a R$ 470 bilhões se o Governo Bolsonaro realmente deslanchar seu programa liberal, que na prática ainda está no papel e no discurso. De qualquer forma, são valores elevadíssimos, mas um ponto é muito mais importante para o País – a redução contundente da presença do Estado na economia.


A análise mais imediata dos efeitos da estatização da economia é de grandes companhias públicas realizando um serviço ineficiente que poderia ser prestado por várias empresas privadas e de melhor desempenho. Esse sistema estatal pesado traz danos mais profundos ainda ao Brasil. Ele contamina as taxas de juros, pré-seleciona os empresários amigos do governo, desde as campanhas eleitorais, e torna o cidadão dependente do socorro do Estado, assim como a disposição ao risco, característica do capitalismo, torna-se ato de loucura. Para que empregar esforço pessoal e capital na gestão do negócio e na formação de poupança para eventuais surpresas se há bancos estatais com linhas especiais e políticos próximo às eleições dispostos a liberar renegociações de dívidas fiscais? 


Dessa forma, a economia anda mais lentamente, o capital não se distribuiu e não cresce e, mergulhando-se no círculo vicioso, os juros nunca caem porque o todo continua ineficiente – não se paga em dia. 


Está certo o raciocínio de Guedes de que a larga presença do Estado na economia retroalimenta a corrupção. Como há muito capital estatal no dia a dia do cidadão, fiscaliza-se esse uso. A partir daí, é necessário montar uma estrutura burocrática imensa, contratar e manter o pessoal capacitado e gastar com tecnologias modernas porque esse sistema analógico não é eficiente. Multiplicam-se os impostos para sustentar o governo cada vez mais caro e chega uma hora em que o setor público não consegue fazer o mínimo – levar saúde, educação e segurança pública à população, principalmente a mais pobre. 


Diz-se com orgulho que o País é um dos países mais empreendedores, mas estes se lançam ao mercado sem as mesmas regras de quem tem boas relações no governo. Antes e durante o regime militar, da pós-redemocratização até a era petista, são as grandes empresas que conseguem o financiamento mais barato e o fomento praticamente não funciona para o pequeno investidor.


A desestatização como Guedes defende equivale a um processo de reeducação econômica profundo. O papel do Estado deve avançar no planejamento e, para garantir oportunidades iguais, cuidar da educação e, no âmbito empresarial, das regras do mercado.


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