Os mais pobres ainda sem casa

Entende-se que o momento atual de caixa vazio exige prioridades, mas é preciso garantir o teto dos humildes

Por: Da Redação  -  28/08/20  -  11:15

Assim como outros programas em gestação no governo, o Casa Verde e Amarela não tem os recursos necessários para funcionar a todo vapor. Trata-se do mesmo problema que tirou o fôlego do Minha Casa Minha Vida (MCMV), uma criação petista para estimular a economia após a crise financeira mundial de 2008. O MCMV foi dividido em faixas de renda familiar, com subsídios generosos para a mais carente, ajuda parcial no bolo intermediário e com recursos do próprio mutuário na terceira. Com custos baixíssimos, esse programa teve a séria falha de depender totalmente de uma eficiente gestão. Em tese, bastava uma construtora especializada em custos baixos fechar parceria para obter amplos terrenos em bairros desvalorizados e depois ir atrás da clientela. 


O problema é que ao longo do tempo começaram a aparecer entraves de todo tipo, como cidades com solo caro, como Santos, que inviabilizava o custo desses projetos, ou área barata que se descobria estar sob embargo ambiental. Entretanto, o pior dos males foi a falta de dinheiro do governo para subsidiar prestações da faixa mais pobre. Com essa ajuda, por exemplo, de R$ 300 que um empreendimento cobraria do comprador de baixíssima renda, este último pagaria R$ 100 e os outros R$ 200 seriam custeados por verba federal. 


Entretanto, as contas durante o Governo Dilma naufragaram e o pobre pagou a conta. Até recentemente, a faixa mais carente do MCMV praticamente parou, enquanto a sem subsídios continuou com investimentos tocados pelas construtoras. 
Agora, nasce o Casa Verde e Amarela à imagem e semelhança do MCMV. Na prática, é assim mesmo, incluindo as dificuldades para patrocinar os mais pobres. Tanto que essa faixa mais carente não receberá investimentos de início, segundo o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. De acordo com ele, é preciso primeiro atender os equivalentes do MCMV que aguardam a conclusão de seus projetos. Considerando a penúria do governo, esse quadro de espera deve continuar. 


No caso do programa bolsonarista, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) deve liberar R$ 25 bilhões em troca de pouco menos de 5% de juros anuais dos mutuários. Se o governo não fizer novas liberações populistas do fundo, esses recursos não faltarão. Porém, em relação à baixíssima renda, a equipe de Marinho diz que tentará remanejar o orçamento no próximo ano, jogo de palavras que equivale dizer que não se tem a mínima ideia de onde poderá sair dinheiro. 
Apesar das falhas, o MCMV foi bem bolado, mas mal gerido. O Casa Verde e Amarela pode dar certo por aperfeiçoar os mecanismos já testados do MCMV. Porém, há uma séria falha – não há nada pensado para resolver o problema do deficit habitacional dos miseráveis ou bem pobres. Entende-se que o momento atual de caixa vazio exige prioridades, mas é preciso garantir o teto dos humildes. 


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