Os desafiantes na arena

Bolsonaro torna sua reeleição muito arriscada se seu único trunfo for o poder da caneta de presidente da República

Por: Da Redação  -  01/12/20  -  10:17

Os resultados das urnas do segundo turno, com a vitória de centro-direita, mas não a extremista, são reveladores e sinalizam dor de cabeça extra para o presidente Jair Bolsonaro levar seu governo adiante e seu projeto de reeleição. Basta observar as provocações contra ele, disparadas pelos tucanos em São Paulo e, ainda que de forma polida, pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso. Enquanto o prefeito eleito da Capital, Bruno Covas (PSDB), disse no discurso de vitória que “restam poucos dias para o negacionismo e o obscurantismo”, Barroso afirmou que ainda “tem gente” que acha que Donald Trump venceu as eleições nos EUA. A declaração belicosa de Covas e a ironia do ministro da Corte indicam que o capital político do presidente encolheu e que se tornou menos desafiador enfrentá-lo.


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O mesmo podem concluir os líderes do Centrão, muitos deles oriundos dessa centro-direita vencedora nos municípios, exigindo cargos – com verbas – para seus redutos eleitorais. Também é previsível que novos nomes para 2022 ou pretendentes antes retraídos se vejam agora com chance de candidatura. Se Bolsonaro e o PT fracassaram nessa eleição, fica a esperança dos adversários de não se repetir em 2022 a polarização de 2018.


Apesar da surra nas últimas urnas, Bolsonaro ainda é o favorito para as próximas eleições simplesmente porque desde a redemocratização todos os presidentes – FHC, Lula e Dilma – conseguiram se reeleger. A força do Executivo no processo eleitoral continua descomunal. Como disse o cientista político Antônio Lavareda em live do jornal Valor, é uma probabilidade, mas a vitória não está garantida, pois a reeleição foi testada só três vezes. 


O que se conclui é que Bolsonaro torna seu destino muito arriscado se seu único trunfo for o poder da caneta. Ele precisa entregar mais resultados à população, que nas urnas cobrou serviços e ações contra a pandemia. Para isso, o presidente terá que ser pragmático e superar suas teorias da conspiração. Enquanto o governador João Doria se apoia cada vez mais na eventual eficácia do imunizante chinês no Estado como símbolo de sua viabilidade eleitoral, o presidente desdenha da importância da vacinação. O sucesso da vacina é hoje condição para as empresas terem um 2021 melhor. Basta analisar a situação dramática das empresas de turismo e aviação e dos bares e restaurantes, com o caixa esvaziado pela covid-19. Ainda não se sabe se o eleitor vai considerar em 2022 o desempenho errático do presidente frente à doença, mas provavelmente vai levar em conta a economia. E esta vai respirar conforme a pandemia tiver sido superada. Dessa forma, melhora da arrecadação ou reformas não darão necessariamente sobrevida política ao governo. Os resultados eleitorais sinalizam que o eleitor entendeu que o combate à pandemia é a prioridade. Resta a dúvida se Bolsonaro entendeu o recado das urnas.


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