O redesenho da Educação

Índices de evasão escolar já são preocupantes e vão demandar um plano bem organizado para retomar o processo educativo

Por: Da Redação  -  07/07/20  -  12:25

Têm sido frequentes as análises sobre os impactos da pandemia do coronavírus em vários setores, notadamente na economia e nas atividades que mais sofreram com o isolamento social. Mas há um setor da vida em sociedade que figura entre os mais preocupantes, em especial porque o efeito ação x reação não se dá de imediato: o processo educativo de crianças e jovens.
Reportagem publicada em A Tribuna no domingo (5) mostra a preocupação de especialistas com a evasão escolar, principalmente de alunos do ensino médio, na faixa etária que vai dos 15 aos 18 anos, quando a formação básica do cidadão se completa e o habilita a seguir por dois caminhos: o ensino superior ou o mercado de trabalho. Em se tratando de escola pública, muitos já não têm condição de ingressar em uma universidade, e as famílias optam por encaminhá-los à busca pelo emprego.


Se em situações normais essa já é uma realidade para alunos da rede pública, a pandemia do coronavírus potencializou esse quadro. A fragilização da economia e a perda de empregos obrigaram muitas famílias a tirar os adolescentes das aulas remotas para ajudar no orçamento familiar. É uma questão de sobrevivência. Some-se a isso a natural dificuldade de acesso a aulas remotas para quem não dispõe de rede de wi-fi em casa ou computadores familiares.


Segundo o Governo do Estado de São Paulo, cerca de 37% dos estudantes matriculados já não estão acompanhando as atividades remotas. É um índice preocupante e que pode crescer até o final do ano letivo, mesmo após a retomada das aulas presenciais, marcadas para 8 de setembro. Alunos que estejam conseguindo acompanhar as atividades, mas sem a aderência adequada ao conteúdo por falta da presença do professor mais próximo, são também sérios candidatos a desistir da escola. 
Frequentar as aulas virtuais não é sinônimo de aprendizagem, e essa é a lição que precisa ser apreendida no pós-pandemia. Autoridades e corpo técnico das redes públicas, em especial, precisam criar um leque de mecanismos que mensure com precisão as perdas do processo educativo advindas da quarentena.


Do contingente que retornar às aulas, é preciso identificar quais falhas precisam ser corrigidas. Esse diagnóstico é que vai definir os rumos e as diretrizes necessárias para os próximos meses e anos. Talvez sejam necessárias políticas públicas específicas para atenuar essas falhas.


Dos que não retornarem, a busca ativa terá que ser acionada de forma efetiva. Onde estão os alunos que não voltaram? Por que não voltaram? 


Educação é processo. Ações adotadas hoje têm reflexos a médio e longo prazos. Falhas na aprendizagem comprometem a formação de crianças e adolescentes, a leitura de mundo, a inserção no mercado de trabalho, o desenvolvimento intelectual. Colocar esses temas na mesa, de forma clara e livre de ideologias, já é o primeiro passo para o redesenho de prioridades.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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