O interesse antes da saúde

O Centrão viu uma oportunidade para desenterrar os ultrapassados programas partidários

Por: Da Redação  -  03/07/20  -  12:01

O adiamento das eleições municipais de outubro para novembro, conforme a proposta de emenda constitucional (PEC) promulgada nesta quinta-feira (2) pelo Congresso, foi a solução mais adequada a ser tomada para proteger os brasileiros frente à pandemia do novo coronavírus. Dessa forma, o primeiro turno será realizado no feriado de 15 de novembro e, se houver necessidade da segunda etapa, no dia 29 seguinte. Como não há consenso sobre até quando a Covid-19 continuará a se disseminar pelo País, a votação poderá ser realizada até a data-limite de 27 de dezembro em algumas cidades onde a doença ainda for uma ameaça. Em meio a essas decisões sensatas do Parlamento, o Centrão se destacou pelo péssimo exemplo de tentar tirar vantagem eleitoral e ampliar o destino de verbas para seus currais. A justificativa dessas legendas foi de não dar vantagem à oposição na disputa por prefeituras e câmaras de vereadores ao invés de cuidar do mais urgente problema do País, que é a saúde.


Na avaliação do Centrão, seus prefeitos aliados, com hospitais sobrecarregados e as economias locais devastadas pela crise econômica, seriam presa fácil para os oponentes, com mais tempo para realizarem seus ataques. Entretanto, isso não tem sentido, pois nem todos os caciques desse aglomerado de legendas têm aliados concorrendo à reeleição e talvez sejam até os oponentes do momento. Além disso, se a pandemia se arrefecer até novembro é possível que sejam beneficiados pelo resultado de seus trabalhos ao socorrerem a população, claro, se tiverem feito bom trabalho. 


Na verdade, o Centrão viu uma oportunidade para desenterrar os ultrapassados programas partidários de TV e rádio fora do período eleitoral e obter do governo uma verba extra de R$ 5 bilhões para cobrir gastos municipais com a covid-19. A ideia de retomar a propaganda partidária enfadonha nos meios de comunicação não vingou, mas o grupo de parlamentares continua com a expectativa de obter os recursos junto ao Palácio do Planalto. Não será surpresa se o Centrão aproveitar eventuais votações essenciais para o governo para exigir os recursos como moeda de troca.


Apesar da definição das duas novas datas, não há a garantia de que elas serão as ideais, porque no Brasil, assim como nos Estados Unidos, a proliferação da pandemia se estende por um prazo acima do previsto, além dos três ou quatro meses esperados, com um pico de mortes entre mil e 1,5 mil registros diários e estágio de contaminação em diferentes níveis no território nacional. Deve-se lembrar ainda que uma cabine de votação envolve aglomeração de pessoas e uso em comum dos botões da urna eletrônica, o que vai exigir a confiança do eleitor de que o material está limpo. Pode haver risco elevado de abstenção por medo de se contaminar. De qualquer forma não se deve estranhar se o Congresso tiver que se reunir às pressas para alterar os prazos eleitorais.


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