Consumada a demissão do ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, começaram imediatamente as especulações sobre seu futuro. Seu capital político é grande, e pesquisas de opinião mostraram que sua popularidade sempre foi maior do que a dos demais ministros e do próprio presidente Jair Bolsonaro.
Não é exagero afirmar que a eleição de 2018 foi decidida pela confluência, entre os eleitores, de três sentimentos predominantes: o antipetismo, o combate à corrupção e o enfrentamento da violência urbana. Muitos chegam a mencionar a formação do "Partido da Lava-Jato", alusão ao trabalho desenvolvido pelo Ministério Público e Poder Judiciário do Paraná, liderado por Sergio Moro, como juiz da 13ª.Vara Federal de Curitiba.
Muito menos relevantes perante o eleitorado foram temas ligados à pauta de costumes e ideologia, que são caros hoje ao bolsonarismo, e também a política econômica liberal do ministro Paulo Guedes. Prevaleceu sempre a ideia de varrer a corrupção incrustada no aparelho de Estado, montada e operada por políticos e empresários, e mudar a forma de fazer política no Brasil, caracterizada pela troca de cargos e verbas entre governo e parlamentares.
Moro representou, de maneira inequívoca, essa bandeira. Sua saída provoca, portanto, divisão importante nos setores que até aqui apoiaram o presidente Jair Bolsonaro e pode enfraquecê-lo. O ex-ministro passou a ser alvo de críticas dos setores fieis ao governo, e ele vai continuar atraindo atenções nas próximas semanas e meses. Ao contrário de Luiz Henrique Mandetta, Moro fez denúncias graves, que levaram o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, a solicitar ao Supremo Tribunal Federal a abertura de inquérito para apurá-las, já aceita pela Suprema Corte, colocando o ex-ministro como foco das atenções nacionais.
É muito prematuro avaliar que papel Moro terá na política brasileira. Seu nome é cogitado para a eleição presidencial de 2022, mas ele tem muitas arestas com o meio político. Ele não é um grande comunicador: discreto e até tímido, tem se limitado ao tema da corrupção e combate ao crime organizado, sem opinar sobre outros grandes temas nacionais. Alguns especialistas consideram que ele tem potencial para atrair 40% do eleitorado de Bolsonaro, mas isso o deixa com menos de 15% do total de votos, insuficiente para alcançar o segundo turno em 2022.
Moro não é um candidato de consenso nacional: rejeitado pela direita mais radical, nunca será aceito pela esquerda. Ele será cortejado por outros candidatos - muitos o consideram o vice ideal - mas agora não é hora de exposição. Sergio Moro sai fortalecido e preservado, e deve assim manter-se: discreto, abraçando a carreira acadêmica como professor. Mas seu papel não se esgotou na política brasileira e ele será importante ator nos lances que virão.