O cerco da vacina

É esperado que todo esse ruído político das vacinas tenha reflexos na eleição dos presidentes das duas casas do Congresso

Por: Da Redação  -  19/01/21  -  12:16

O Governo Federal tem nas próximas duas semanas, antes de uma dura eleição no Congresso, o desafio de mostrar que não está perdido e que tem condições de distribuir e aplicar as poucas doses da vacina contra a covid-19 que dispõe até agora. A batalha política da largada da campanha de imunização foi vencida pelo governador João Doria, enquanto o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, precisa obter às pressas o que não providenciou nos últimos meses, que são imunizantes alternativos. O bom senso e as notícias já indicavam que haveria uma corrida mundial pela vacina, com poucos laboratórios com produtos disponíveis pelo menos nesta etapa do ano. Deve-se ressaltar que dos grandes emergentes - China, Índia, Rússia e África do Sul, apenas o Brasil não desenvolveu uma vacina, apesar de possuir dois institutos experientes da área, o Butantan e a Fiocruz, que agora atuam por meio de parcerias de transferência de tecnologia. Sinal de que investir em pesquisa é prioridade para qualquer país.


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A dificuldade do governo não é de todo tecnológica e sim de aquisição de vacina, pois o Butantan não dará conta da demanda inicial, de garantia de insumo, cuja necessidade mundial também já ameaça o Butantan, e de distribuição das doses. A pressa do ministério para levar o imunizante a um país de dimensões continentais agora se revela uma missão desafiadora, pois coincide com aumento da contaminação após abusos desenfreados nas festas de fim de ano. Há ainda o risco da disseminação de uma variante do vírus mais agressiva e que pode levar multidões aos hospitais, estrangulando o sistema de saúde ao mesmo tempo em que se observa uma inaptidão elevada dos governos, o Federal e dos estados, para reagir com insumos e instalações apropriadas. O perigo é a interiorização das cepas do coronavírus mais violentas, gerando uma demanda que muitas cidades não conseguem atender, com saturação dos hospitais regionais, isso se haver algum nas redondezas.


O olhar do presidente Jair Bolsonaro para a crise da pandemia é mais político e muito pouco sanitário, o que explica a inoperância para ofertar vacinas à sociedade. Sua corrida atual é para não ficar atrás da vantagem obtida por Doria, que ontem partiu para o Interior para lançar a campanha de vacinação. Trata-se da prioridade deste momento e dessa exposição política o tucano vai se aproveitar. Entretanto, em meio a uma tumultuada largada da vacinação e salto das infecções, é possível que todo esse ruído político tenha reflexos no dia 1º, na eleição dos presidentes do Legislativo, principalmente o da Câmara. Ao mesmo tempo em que o candidato Baleia Rossi (MDB-SP) pode ficar mais competitivo, o Centrão, que está por trás do nome apoiado pelo Palácio do Planalto, Arthur Lira (PP-AL), tende a fazer mais cobranças, como diretorias de estatais e ministérios importantes. Para um governo frágil obter apoio, a contrapartida exigida costuma ser mais encorpada.


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