As últimas pesquisas de avaliação do presidente Jair Bolsonaro revelam que parcela daqueles que votaram nele em 2018 estão decepcionados com seu estilo e forma de governar. Sua reprovação cresceu, embora a parcela dos que o apoiam de modo incondicional, em torno de 30% do eleitorado, mantenha-se fiel e alinhada ao presidente, concordando com seus pronunciamentos e posições mais extremadas.
Há nítido realinhamento das forças políticas no Brasil. Busca-se reorganizar o centro, que praticamente desapareceu nas eleições de 2018, marcadas pela polarização entre Jair Bolsonaro e o PT, representado na disputa por Fernando Haddad. Grande parte do eleitorado votou no candidato do PSL menos por suas propostas e ideias, e muito mais porque ele representava a alternativa capaz de derrotar o PT, identificado com a corrupção e a crise econômica instalada no País a partir do final de 2014.
Bolsonaro parece insensível a esse movimento, mantendo-se firme em sua postura e indiferente às críticas e rejeição, que aumenta em setores que não podem ser identificados com a esquerda. No Congresso, nota-se claramente que a base de apoio do governo é insuficiente e, para aprovar os projetos de reformas estruturais, como a da Previdência e a tributária, são necessários os votos do Centrão, que reúne os partidos e parlamentares identificados, em grande parte, com a centro-direita.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem se movimentado no cenário político, insistindo no protagonismo do Congresso. Sua última ação foi criar uma agenda ambiental positiva e paralela ao do governo Bolsonaro, contando com o apoio da bancada ruralista, de modo a contrapor-se às críticas da comunidade internacional ao aumento das queimadas na Amazônia, e que traduz insatisfação crescente de deputados e senadores ruralistas com a retórica ambiental do presidente e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Discute-se ainda a possibilidade de criar um partido único de centro, envolvendo PSDB, DEM, PSD e outras legendas menores. Tal proposta, que contaria com a adesão de Maia e do governador de São Paulo, João Doria, enfrenta muitos obstáculos e resistências, e dificilmente se viabilizará. Mas revela que há nítido movimento de articulação e fortalecimento do centro no Brasil, que busca afirmar-se para surgir como alternativa em 2022.
Há muitos interesses pessoais em jogo, que podem comprometer a organização desse movimento. É inegável, porém, que o centro terá papel importante nas próximas eleições, e é preciso estar atento a esse fato nos próximos meses. Dificilmente Bolsonaro ampliará sua base de apoio na sociedade, estacionada em 30%, e abrem-se perspectivas para novas alternativas no cenário político, a depender da evolução e melhoria econômica no país.