O Brasil lá fora

Fica difícil vislumbrar o impacto de uma carta do governo aos investidores, como se ela fosse apagar os erros de imagem

Por: Da Redação  -  05/07/20  -  11:01

O governo, ainda que tardiamente, montou uma espécie de comissão com membros dos ministérios para tentar resgatar a imagem do País no exterior. A preocupação maior é com investidores europeus e americanos sensíveis às questões ambientais. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, foi a primeira a alertar para prejuízos às exportações brasileiras caso os ataques totalmente desnecessários da base ideológica continuassem acertando os chineses. Entretanto, os danos maiores estão junto ao capitalismo ocidental, bem mais próximos às pressões de movimentos ambientais. Por meio de carta, no mês passado, um grupo de fundos que movimenta quase U$ 4 trilhões ameaçou deixar ou ignorar o País para futuros aportes se nada for feito em relação à Amazônia. Inclusive, a famosa menção do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, na reunião ministerial de 22 de abril, de fazer a “boiada passar” para desafrouxar regras aproveitando o foco da Imprensa na pandemia, foi mencionada por um dos investidores, tamanha a repercussão que a frase teve no exterior.


Agora fica difícil vislumbrar o impacto de uma carta do governo aos investidores, como se ela fosse apagar os erros de imagem realizados até aqui. Nos últimos dois anos, principalmente a partir dos incêndios na Amazônia de 2019, a mídia dos países ricos ocidentais passou a dar mais destaque ao País com o enfoque na destruição ambiental, em meio às críticas ao perfil político do Governo Bolsonaro. O mercado financeiro não se move tanto por posições partidárias ou ideológicas – o foco é a estratégia de contas públicas e de abertura da economia ao investidor externo, o que no caso da atual gestão dá até mais segurança ao investidor. Entretanto, este é um momento altamente sensível às questões sociais, capitaneadas pelo combate ao racismo. Mas o drama da pandemia trouxe mais atenção aos problemas ambientais e sociais, o que é muito bem-vindo. Por isso, a forma como o governo lidou com o tema da Amazônia, negando o protagonismo da destruição da floresta, consequentemente as ameaças aos povos da mata, foi de um descuido inimaginável.


Além de uma carta do governo afirmando cuidados com as questões ambientais, será preciso dar algo mais palpável aos destinatários para não levá-la a ser ignorada. Será preciso apresentar uma agenda das intenções ambientais bem clara para os próximos dois anos e meio desta gestão. Apenas afirmações de que a questão do meio ambiente é uma preocupação nacional não convencerão. 


Devido à pandemia, os governos por todo o mundo passaram a injetar recursos no setor privado para tentar reduzir o impacto da recessão. Como os juros estão perto ou abaixo de zero em vários países, não há grandes problemas para fluxos de capitais. Por isso, os emergentes se tornam atraentes com a possibilidade de uma maior rentabilidade. Porém, é preciso cuidar melhor da imagem externa do País.


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