O Brasil é, sim, governável

Exige-se agora, mais do que nunca, equilíbrio e tranquilidade e, acima de tudo, confiança no futuro do País

Por: Da Redação  -  19/05/19  -  13:55

A tensão política aumentou de modo considerável nesta semana. Protestos nas ruas, pela primeira vez no atual governo, somaram-se às críticas, cada vez mais fortes e frequentes, contra o presidente Jair Bolsonaro. O pessimismo em relação à aprovação da reforma da Previdência cresceu, o Ibovespa despencou e o dólar subiu, chegando a R$ 4,10 na sexta-feira (17). É fato que a guerra comercial entre China e Estados Unidos teve impacto no movimento negativo, mas a escalada da moeda norte-americana, que continuou e se aprofundou após certa calmaria no cenário internacional, traduz bem as dificuldades internas do governo.


Mesmo setores que apoiaram Bolsonaro demonstram sua insatisfação. Líderes e personalidades que surfaram na onda conservadora estão revendo seu apoio a ele. É o caso do Movimento Brasil Livre (MBL): um dos principais formuladores da sua linha de ação, Renan Santos, afirmou que “o Governo Bolsonaro é o maior inimigo da direita republicana, que é o que a gente defende”. O ex-ministro Delfim Netto foi direto ao ponto, dizendo que “não se faz política tratando seu opositor como inimigo”. Para ele, o presidente tem que ser um criador de consensos e, se isso não acontecer, não se vai a lugar nenhum.


O empresário Flávio Rocha, das lojas Riachuelo, que chegou a ser cotado para concorrer à Presidência da República em 2018, deixa claro que é preciso que Bolsonaro adote uma agenda positiva e deixe para trás o discurso do “nós contra eles”. Nessa linha, segundo ele, “viramos um PT da direita e estamos nos perdendo nisso”.


O apelo de setores conservadores responsáveis é, portanto, organizar a sociedade por meio da política, como apontou Delfim Netto. Infelizmente, o presidente parece longe disso. Na sexta-feira (17), ele compartilhou no WhatsApp texto sobre as dificuldades de seu governo, atribuído a Paulo Portinho, analista da Comissão de Valores Imobiliários, embora circulasse nas redes de modo anônimo.


A repercussão foi péssima. Para muitos analistas, teria sido mais um ataque do presidente à chamada “velha política” em momento absolutamente inoportuno. Suas palavras confirmam as preocupações que logo surgiram quando afirmou, em nota posterior, que vem colocando todo seu esforço para governar o Brasil, mas as mudanças que tenta impor não agradam àqueles grupos que no passado se beneficiavam das relações pouco republicanas.


O texto vai exatamente nessa direção. Começa dizendo que bastaram cinco meses de um governo “sem jeito” com o Congresso e de comunicação amadora para mostrar que o Brasil nunca foi, e talvez nunca será, governado de acordo com os interesses dos eleitores, sejam eles de esquerda ou de direita. O País seria governado exclusivamente para atender interesses de corporações com acesso privilegiado ao orçamento público, que vão de políticos a servidores-sindicalistas, sindicalistas de toga e grupos empresariais bem posicionados nas teias do poder.


O discurso é antigo, e a comparação com as “forças ocultas” que levaram Jânio Quadros à renúncia em 1961 tem total correspondência. Basta notar a pergunta que é feita: “Que poder, de fato, tem o presidente do Brasil”, logo respondida que ele não serve para NADA (em letras maiúsculas), exceto para organizar o governo no interesse das corporações. E como a agenda de Bolsonaro não é do interesse de nenhuma delas (“pelo jeito nem dos militares”), o sequestro fica mais evidente e o cárcere começa a se mostrar sufocante.


O diagnóstico é absolutamente errado. O Brasil não está disfuncional, nem o governo será “desidratado até morrer de inanição, com vitória para as corporações” e “na pior das hipóteses ficamos ingovernáveis e os agentes econômicos, internos e externos, desistem do Brasil”. Não é verdade que a hipótese de uma ruptura institucional irreversível, de desfecho imprevisível, seja “perfeitamente plausível e claramente possível”. Ao contrário, o País tem vitalidade, força e condições de romper o atual quadro de dificuldades que atualmente enfrenta.


Isso deve ser feito no âmbito da política, com diálogo e negociação. Uma agenda positiva é necessária, rompendo o atual isolamento com o Congresso, que tem contra atacado. A convocação do ministro da Educação, Abraham Weintraub, para depor na Câmara teve 307 votos a favor, praticamente dois terços da Casa. O partido do presidente, o PSL, segue dividido e sem rumo.


Em meio às turbulências que cercam o governo – crise na Educação, protestos nas ruas do País, exacerbação da pauta conservadora em relação aos costumes, avanço das investigações do Ministério Público contra o filho do presidente, senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), influência negativa e conflituosa do escritor Olavo de Carvalho - o presidente da Comissão Especial da reforma da Previdência na Câmara, Marcelo Ramos (PR-AM) afirmou que os líderes partidários podem apresentar proposta própria de alteração das regras previdenciárias, isolando o presidente neste processo. A articulação pode culminar na apresentação dessa alternativa no parecer do relator da matéria na Comissão, Samuel Moreira (PSDB-SP).


O momento é sério e grave. Há razões para preocupação, mas a linha do confronto só piorará ainda mais o quadro. O presidente tem a legitimidade necessária, proveniente das urnas e da confiança da maioria do eleitorado, para alterar o rumo de seu governo, evitando principalmente o tom panfletário das redes sociais. Exige-se agora, mais do que nunca, equilíbrio e tranquilidade e, acima de tudo, confiança no futuro do País. Não há forças ocultas, nem grupos ou corporações que pretendem destruir o Brasil.


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