Nobel e pobreza

Prêmio Nobel de Economia deste ano foi concedido a três pesquisadores radicados nos Estados Unidos

Por: Da Redação  -  19/10/19  -  19:13

O Prêmio Nobel de Economia deste ano foi concedido a três pesquisadores radicados nos Estados Unidos, Abhijit Barnejee e Esther Duflo, professores de economia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), e Michael Kremer, professor da Universidade de Harvard. Segundo o comitê do Nobel, o trio teve papel fundamental na transformação da abordagem sobre a redução da pobreza mundial. 


A concessão do prêmio evidencia aspectos inovadores: de um lado, dá grande importância a um tema que não é destacado nos círculos acadêmicos, que é a preocupação com estudos econômicos sobre bem-estar social, em especial o combate à fome; de outro, ressalta a dimensão da pesquisa empírica, ou seja, o trabalho sistemático de testar hipóteses econômicas em experimentos da vida real, ampliando os horizontes da área, até aqui dominada pela tentativa teórica de confirmar ou descartar suposições exclusivamente por meio de modelos matemáticos.


Outro ponto a destacar é a premiação feminina: Esther Duflo foi a segunda mulher a receber o Nobel de Economia, criado há 50 anos, e é também a pesquisadora mais jovem a receber a láurea: aos 46 anos, ela assumiu essa marca, que pertencia a Kenneth Arrow, que a recebera aos 51 anos, em 1972.


Os premiados fizeram, ao longo de suas carreiras, perguntas simples sobre a pobreza e aplicaram um método simples, mas eficiente, para buscar as respostas. Aplicaram às questões testes aleatórios, usados em áreas como a medicina, tentando estabelecer relações de causa e efeito em grupos distintos: um de tratamento e outro de controle. Há analogia com a pesquisa sobre remédios, na qual são administradas drogas para um grupo e placebo para outro, para avaliar o efeito de um medicamento.


Essa abordagem permite avaliar as políticas públicas mais eficientes para o combate à pobreza. As pesquisas de Duflo, Barnejee e Kremer permitiram entender, por exemplo, que a educação nos países pobres nem sempre é limitada pela falta de recursos, mas às vezes pela incapacidade de adaptar o ensino às necessidades individuais dos alunos, e que subsídios temporários para comprar fertilizantes são mais eficazes para encorajar agricultores pobres a melhorar a produtividade do que os permanentes.


Os pobres tomam decisões autônomas racionais, mas que são condicionadas por restrições institucionais, monetárias, de informações e até mesmo cognitivas. Daí a importância de pesquisar e entender como as políticas econômicas que são implantadas poderão - ou não - enfraquecer e superar esses fatores limitadores. 


Agir sobre a realidade cultural e social das pessoas, criando políticas eficientes que enfrentem a incerteza profunda sobre a pobreza, é o mérito dos três economistas premiados com o Nobel, cujo trabalho merece ser conhecido e ampliado em todo o mundo. 


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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