Muito além dos números

Capacidade de leitos se esgotando e falta de equipamentos vitais compõem um quadro de risco em enésima potência

Por: Da Redação  -  11/05/20  -  13:00

O Brasil ultrapassou, no final de semana, a assombrosa marca dos 10 mil mortos pela Covid-19. O número, à primeira vista, pode não causar tanto espanto ao cidadão comum, em meio à proliferação de estatísticas, frias, mas necessárias para se entender o tamanho da crise sanitária global.


Não é de hoje que as autoridades mundiais alertam para o perigo da infecção pelo coronavírus. E não se pode tergiversar num tema tão complexo quanto dramático. A prevenção é sempre o melhor remédio, ao menos enquanto não se descobre uma vacina ou outro meio de barrar os meios de contaminação. 


Hoje se discute qual a estratégia mais adequada para se frear a ameaça. Enquanto algumas nações apostaram na questão cultural, sem muitas restrições, mas se valendo da conscientização social, outros optaram pelo confinamento, a ponto de pôr em prática o chamado lockdown (bloqueio total). 


O Brasil, em que pese a real disposição de quase todas as suas autoridades, vem executando as ações preventivas. Mesmo diante da vacilante posição do Governo Federal, onde o ministro da Saúde reforça o caráter do isolamento como imprescindível e o presidente da República prega o contrário.


Em São Paulo, o governador João Doria decidiu prorrogar a quarentena para o dia 31 de maio. Se o fez, escudado na análise de autoridades de Saúde, há razões para isso. E aqui não se trata de elogio ou crítica, pura e simplesmente, às diferentes posições políticas, por sinal, totalmente descabidas e egoístas neste momento. 


Não é só isso: as mais de 10.700 mortes no Brasil passam também pela conscientização, ou a falta dela, quando vemos concentrações de pessoas em espaços públicos e manifestações impróprias, já que pressupõem aglomeração. Há que se destacar a profunda desigualdade social brasileira, com populações residindo em autênticos cubículos e vielas País afora. Nestes amontoados urbanos, de fato, as imposições e restrições são complexas. É outro drama dentro da nossa tragédia sanitária.


A realidade é que o Brasil, excetuando-se hospitais de ponta – inacessível para a maioria dos brasileiros –, não tem uma plataforma de saúde estruturada e eficiente, mesmo com a performance heroica do Sistema Único de Saúde atuando no limite. Capacidade de leitos se esgotando e falta de equipamentos vitais, como os respiradores, compõem um quadro de risco em enésima potência. 


Outro ponto que vem gerando discussões acaloradas e tensas, a própria questão econômica, que já se sabe enfrentará uma era de imensas dificuldades, precisa estar submetida aos rigores das medidas restritivas. O preço é alto, mas de forma alguma terá a mesma prevalência das estatísticas diárias sobre óbitos. O que resta neste campo, por ora, é o planejamento sobre como se dará a recuperação, sem açodamentos ou pressões políticas. A vida, neste momento, é o bem a se preservar.


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