Muita dificuldade pela frente

Pesquisadores do Ibre/FGV estimam que, mesmo com as medidas anunciadas para garantir renda extra a trabalhadores formais e informais, a massa salarial deve cair 5,2% no ano

Por: Da Redação  -  13/04/20  -  19:48

Ainda é cedo para avaliar a duração da crise provocada pela Covid-19, mas há certeza que os efeitos econômicos e sociais serão enormes. Não há mais dúvida sobre a recessão que o país irá enfrentar em 2020 – discute-se apenas qual será sua profundidade, com graves consequências no emprego e na renda da população.


Pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) estimam que, mesmo com as medidas anunciadas para garantir renda extra a trabalhadores formais e informais, que somam R$ 170 bilhões, a massa salarial deve cair 5,2% no ano, que representa retração recorde da série iniciada em 2003. Sem tais medidas, porém, o tombo seria o dobro, atingindo 10,3%.


No cenário mais provável traçado pelo estudo, haverá queda de 3,4% no PIB nacional e de 6,7% nas horas trabalhadas e na população ocupada, com perda de cerca de 6 milhões de empregos, elevando a taxa de desemprego para 17,8%.


O cenário é assustador, não tanto quanto à redução do PIB (em 2015 e 2016 houve queda equivalente), mas principalmente em relação ao emprego e renda das pessoas. As demissões certamente acontecerão e não haverá a tradicional válvula de escape para o trabalho informal, na medida em que não há espaço nem oportunidades para esse tipo de atividade, geralmente no setor de serviços.


O auxílio emergencial de R$ 600, que está sendo pago a milhões de pessoas, é importante, mas deve ser destacado que seu valor é inferior à renda média dos trabalhadores sem carteira, que é de R$ 1.464, segundo o IBGE. No caso dos empregados formais, o programa de suspensão/redução da jornada de trabalho prevê compensação até o valor máximo do seguro-desemprego, que é atualmente R$ 1.813, bem abaixo da média dos salários com carteira (R$ 2.881).


A continuidade – e aprofundamento – da crise obrigará o governo a avançar mais em medidas emergenciais, cujo resultado será o aumento significativo do déficit público. Não há, porém, alternativa: assim como a prioridade máxima é salvar vidas, com investimentos maciços em saúde pública, o governo precisa agir para garantir condições mínimas de sobrevivência.


Já há estimativas que o custo das medidas de auxílio vá chegar a 5% do PIB, levando em conta gastos e queda da arrecadação. A proporção entre dívida e PIB deve saltar de 76%, apurada em março, para 85% a 90%.


O custo é alto, mas necessário. A conta terá que ser paga depois, mas é preciso deixar claro que emergências não poderão se tornar permanentes. Além disso, é necessário garantir que o peso não recaia sobre os mais pobres: nesse sentido, a reforma tributária é passo fundamental, com revisão de subsídios e benefícios, elevação da alíquota de Imposto de Renda das pessoas físicas e tributação de dividendos, além de profundas alterações na máquina pública.


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