Menos pior, mas assustador

A prioridade é manter a saúde e o próprio sustento em um curto prazo recheado de imprevisibilidade

Por: Da Redação  -  03/09/20  -  09:25

A queda do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no segundo trimestre, em relação aos primeiros três meses do ano, de 9,7%, não está entre os piores registrados no mundo. Ficou parecido com o verificado nos Estados Unidos (-9,1%) e Alemanha (-9,7%) e bem menos ruim do que no México (-17%) e Peru (-27%). O resultado supreendeu o mercado, que esperava mais deterioração. Provavelmente o Palácio do Planalto ficou satisfeito com a análise dos economistas, de que o Brasil não afundou mais ainda devido ao auxílio emergencial. O ministro da Economia, Paulo Guedes, até tentou passar a ideia de que o desempenho do segundo trimestre é passado e que daqui para frente só haverá ascensão. Entretanto, lembrou a economista Monica De Bolle, Paulo Guedes, que relutou em interferir no começo da pandemia, insistia em 16 de março que o País cresceria neste ano. Não vai – as previsões estão por volta de -6%.


Sem festa, é hora do governo arregaçar ainda mais as mangas para fazer a economia respirar. A pandemia continua se disseminando e matando a números elevados, pois o tal platô cai vagarosamente. Essa situação só faz retardar a recuperação. A engrenagem da retomada segue frágil, porque parte da população não consome ou investe por temer infecção ou perder o emprego. O auxílio entra como reforço, com o governo injetando capital, mas, como o governo anunciou na quarta-feira, o auxílio cairá pela metade (R$ 300 e não mais R$ 600). Assim, o bolo mensal alimentando a economia, antes de R$ 52 bilhões, será de R$ 26 bilhões.


A todo momento lê-se análises de que o presidente Jair Bolsonaro fatura popularidade com a medida. Ao cidadão comum, pelo menos neste momento, isso pouco importa. A prioridade é manter a saúde e o próprio sustento em um curto prazo recheado de imprevisibilidade. É possível que a pandemia resista à virada do ano. As recentes aglomerações nas praias e nas festas ou ainda nos circuitos de bares podem repercutir nas estatísticas da covid-19 daqui a 15 dias.


Dessa forma, o turismo, o ensino e a indústria com linhas de produção com muitos trabalhadores, como frigoríficos, continuam parcialmente prejudicados. Bares e restaurantes já reabriram, mas muitos de seus donos não conseguem manter uma operação suficiente para cobrir seus custos – melhor esperar outros tempos para retomar seus espíritos empreendedores, considerando os que não quebraram.


Por isso, seria muito importante o governo preparar uma espécie de pacote da retomada, com reforço dos auxílios sociais, uma ideia já em viabilização, e crédito sob condições especiais para os setores mais abalados. O problema é que o Brasil não é a Alemanha e os EUA, que têm maior capacidade de endividamento para sustentar suas economias. Por aqui, há limites e o rombo das contas é aterrorizante, mas que pelo menos se estabeleça algum tipo de apoio mais audacioso para abrandar a recessão.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter