O depósito irregular de lixo e a falta de destinação adequada constituem sério problema, cuja solução parece distante no Brasil. Não se trata de questão estética ou de aparência das cidades: envolve a qualidade de vida das populações urbanas, com graves consequências para a saúde pública. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, que se tornou lei em 2004, estabeleceu prazo de dez anos para o fim dos lixões no País, não cumprido. Cerca de metade dos municípios brasileiros não conseguiu equacionar a questão, e continua destinando seus resíduos de modo irregular.
Nos períodos de chuva, como as que aconteceram nos últimos meses, o lançamento de lixo em encostas de morros agrava o risco de deslizamentos, enquanto detritos entopem bueiros e galerias de águas pluviais, e as enchentes se tornam ainda maiores. Nos mangues da Baixada Santista, onde há ocupação irregular com a construção de precárias moradias, montanhas de lixo são formadas, e as administrações municipais não conseguem conter e controlar as ocupações irregulares e o crescimento do lixo depositado.
A Sabesp divulgou balanço do que foi recolhido no esgoto da região e o resultado apontou números preocupantes: em 2018 foram retiradas 2,2 mil toneladas de detritos sólidos e outras 3,5 mil toneladas de areia nas tubulações das nove cidades da Baixada Santista. Somente nos dois primeiros meses de 2019, foram mais 0,4 mil toneladas de lixo e 0,6 mil toneladas de areia, indicando o agravamento da situação. São tampinhas, isopor, pinos de plástico, cabelo e brinquedos que, somados ao óleo de cozinha, constituem o material recolhido no sistema da empresa.
O óleo de cozinha, em particular, traz graves problemas, uma vez que, despejado nas tubulações, endurece e gruda em outros resíduos lançados indevidamente, entupindo a rede coletora, e podendo provocar retorno de esgotos para as residências. Destaque-se ainda que o descarte inadequado é feito, de forma sistemática, em pias, privadas e ralos.
Evitar o acúmulo de lixo em ruas, bueiros, encostas, mangues e tubulações de esgoto é dever de todos. Não se trata de eximir o Poder Público de suas responsabilidades, nas quais ele tem falhado de modo permanente e contínuo. Basta notar a falta de providências para resolver a destinação final do lixo, e isso envolve União, estados e municípios. Mas é preciso reconhecer que falta consciência e cidadania: as pessoas não se preocupam em separar o lixo doméstico, incentivando a reciclagem, e descartam os resíduos de modo irresponsável.
O velho problema exige soluções. Elas precisam vir dos governos, com investimentos na área, mas também, e principalmente, com a participação da comunidade no esforço permanente de evitar que as cidades sejam invadidas, e literalmente inundadas, pela presença de lixo.