Lição de Beirute

É preciso saber conviver com elevados níveis de riscos. Qualquer falha pode se tornar o estopim de uma catástrofe

Por: Da Redação  -  07/08/20  -  11:08

Ser previdente e até pecar pelo excesso são as melhores saídas quando se lida com a segurança, principalmente quando se trata de produto químico. Entre tantos acidentes mortais ou de grandes prejuízos materiais já registrados, a explosão no Porto de Beirute, no Líbano, é o maior exemplo disso. Por isso, a decisão do Ibama de rastrear a armazenagem e a operação de produtos químicos perigosos no Porto de Santos, conforme A Tribuna publicou nesta quinta-feira 6), é muito bem-vinda. A importância da medida tomada pelo órgão ambiental federal se verifica devido à movimentação e armazenagem de nitrato de amônio no cais santista, especialmente no Terminal Marítimo de Guarujá (Termag). No lado santista do Porto não há estocagem, mas sim a operação com descarga direta acompanhada por equipes de fiscalização, segundo apurou a Reportagem. 


O nitrato de amônio é utilizado como material de bombas, mas no caso brasileiro seu uso é expressivo como insumo de fertilizantes. Considerando-se as dimensões que o País atingiu com seu agronegócio e que os fertilizantes e suas matérias-primas são em boa parte importados, a movimentação portuária de nitrato de amônio é indispensável. Por isso, é preciso saber conviver com tal produto químico e seus elevadíssimos riscos. Nesta situação, qualquer falha pode se tornar o estopim de uma catástrofe. 


No caso de Beirute, 135 moradores morreram e 5 mil ficaram feridos com a detonação de 2,75 mil toneladas de nitrato de amônio. A explosão atingiu tamanha proporção após uma série de erros, principalmente a armazenagem de carga química de forma perigosa em hangar portuário próximo de bairros populosos e de intenso comércio. Tamanho displicência atingiu tais proporções provavelmente por se tratar de um país dilacerado política e administrativamente pela composição de facções que sustentam o governo de coalizão que não funciona mais. A localização em uma zona de guerra completa a tragédia. 
A situação libanesa é bem distinta da realidade brasileira, mas a tragédia de Beirute mostra as proporções trágicas que um acidente com cargas perigosas podem causar em uma região densamente povoada. Não só a ação do Ibama é satisfatória como os protocolos de segurança e as fiscalizações realizadas no Porto de Santos e no Polo de Cubatão precisam ser amplamente divulgados e acompanhados. 


Segundo a Autoridade Portuária de Santos, a umidade e a temperatura durante as operações de nitrato de amônio já são monitorados. Além disso, diz o órgão, o Termag é licenciado pela agência ambiental estadual, a Cetesb, e possui autorização do Exército para armazenar o produto. Há ainda planos de Gerenciamento de Risco e de Ação de Emergência. Mesmo assim, acidentes aconteceram na região, felizmente sem vítimas – houve vazamento de nitrato de amônio em 2017 em Cubatão. Por isso, o nível de exigência precisa estar sempre em seu ponto mais elevado. 


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