Isolamento não é lockdown

Na discussão entre confinamento horizontal e vertical, são salientadas as consequências para os mais pobres e desassistidos, da paralisação das atividades econômicas

Por: Da Redação  -  15/04/20  -  19:30

Muitos têm feito críticas ao isolamento social adotado pelo Brasil, a exemplo de vários países do mundo. Admitem a necessidade de proteção aos grupos de risco (idosos com mais de 60 anos e portadores de doenças crônicas), mas entendem que deveria haver flexibilização para as demais pessoas, autorizando-as a circular e trabalhar, desde que com cuidados em relação à sua saúde.


Na discussão entre o confinamento horizontal (que atinge a maioria das pessoas) e o vertical (restrito aos mais vulneráveis), são salientadas as consequências, exatamente para os mais pobres e desassistidos, da paralisação das atividades econômicas, que fazem com que elas fiquem sem renda alguma.


Há observações sobre o modelo adotado. Afinal, proíbe-se que as pessoas saiam de casa, com recomendações expressas nesse sentido, mas vários estabelecimentos continuam abertos e funcionando, como bancos, lotéricas, transporte público, supermercados, farmácias. Em todos eles há concentração de pessoas, filas e, portanto, risco real de contaminação. Não seria melhor, portanto, assumir a reabertura gradativa do comércio, de modo a evitar os grandes malefícios atuais?


A resposta é negativa. Não se deve confundir o atual isolamento com o chamado lockdown, que é a paralisação total das atividades. Alguns países, como a Alemanha, adotaram tal procedimento e é preciso reconhecer a eficácia: na última segunda-feira, houve lá mais pessoas recuperadas da Covid-19 do que doentes e mortos.


A Alemanha demorou para entrar em quarentena total (que só ocorreu em 22 de março), 13 dias após o registro da primeira morte no país, mas os efeitos do lockdown se fizeram sentir: a curva de propagação da doença foi achatada, o pico do coronavírus ficou para trás e já é possível avançar para o relaxamento gradual das restrições, desde que medidas de proteção, como distanciamento social e higiene, sejam mantidas, e que não haja aumento no contágio.


O Brasil adotou uma fórmula não tão rígida, mas suficiente, segundo especialistas, para conter a propagação do vírus. O confinamento horizontal é decisivo e fundamental, sem que isso implique em paralisação total do país. Nesse sentido, contam muito a consciência e responsabilidade das pessoas, que devem evitar circular pelas ruas e principalmente aglomerar-se. Supermercados, bancos e farmácias podem funcionar, mas cabe a cada um evitar a exposição desnecessária e arriscada. 


O aumento dos casos e, infelizmente, de vítimas fatais no Brasil indica que é prematuro abrir mão do isolamento e iniciar, de forma precipitada, o relaxamento das atuais medidas de confinamento. Elas são a única forma efetiva de evitar que o problema se alastre, com consequências terríveis para o sistema público de saúde, como já acontece em algumas regiões do país, como em Manaus. 


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