Inversão das expectativas

2020 começou com boas expectativas quanto ao desempenho da economia no Brasil. Entretanto, o cenário otimista alterou-se nos últimos dias

Por: Da Redação  -  16/02/20  -  10:44

2020 começou com expectativas otimistas quanto ao desempenho da economia no Brasil. A previsão era de crescimento do PIB em torno de 2,5%, bem acima do registrado nos últimos três anos. Era esperado ainda que o Congresso aprovasse as propostas de emendas constitucionais já enviadas pelo governo (PEC emergencial, PEC dos fundos públicos e PEC do pacto federativo), além de resolver a reforma tributária e analisar a reforma administrativa, ainda não encaminhada pelo Executivo.


O cenário otimista alterou-se, entretanto, nos últimos dias. As vendas do varejo vieram abaixo do esperado em dezembro, e caíram 0,1% em relação ao mês anterior, interrompendo sequência de sete meses positivos. A queda no mês das vendas de Natal veio na contramão da expectativa do mercado, que projetava alta de 0,2%. Dos dez setores acompanhados pela Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), oito registraram baixa em dezembro, com destaque para o recuo de 1,2% nas vendas de supermercados e de 4% em veículos.


O setor de serviços que, com o comércio, responde por 75% dos empregos no País também apresentou queda em dezembro: 0,4% em relação a novembro, e fechou o ano com avanço de apenas 1%. O mercado estimava crescimento maior (1,5%), e o setor está longe de recuperar as perdas acumuladas durante a recessão recente. Destaque-se que, entre 2015 e 2017, o recuo acumulado foi de 11%, e a alta de 2019, importante por quebrar série negativa de cinco anos, ainda está distante de alcançar o melhor resultado.


O crescimento foi mais nos serviços de informação e comunicação (3,3% no ano), nos quais se destacaram o bom desempenho de portais, provedores e informações na internet, bem como no setor de locação de veículos, impulsionado pelo aumento dos motoristas de aplicativos.
Constata-se, portanto, que os avanços são localizados, e a economia como um todo ainda enfrenta muita dificuldade para a recuperação. Em 2019, a indústria também registrou queda de 1,1% no volume de bens produzidos, após registrar alta por dois anos consecutivos.


Há razões para preocupação. O quadro político também é adverso: a interlocução do governo com o Congresso segue frágil, com muitas tensões, e as indefinições quanto às reformas tributária e administrativa comprometem as possibilidades de aprovação neste ano. Os choques externos, como o surto de coronavírus, a guerra comercial entre China e Estados Unidos e a recessão na Argentina, também contribuem para que o desempenho econômico brasileiro em 2020 seja menor do que o esperado.


É cedo para conclusões. Há perspectivas de maior consumo privado no ano, além de plano ousado de concessões na área da infraestrutura. Mas não se pode descuidar da política, e principalmente da relação com o Congresso Nacional. 


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