Integração com a cidade e a Codesp

Trata-se de questão quase nunca abordada pela autoridade portuária, e é muito importante que seu novo dirigente, Casemiro Tércio Carvalho, se preocupe com ela

Por: Da Redação  -  10/04/19  -  14:33
Atualizado em 10/04/19 - 14:47

Em artigo publicado neste jornal, o diretor-presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), Casemiro Tércio Carvalho, abordou o tema da integração Porto-Cidade. Trata-se de questão quase nunca abordada pela autoridade portuária, e é muito importante que seu novo dirigente se preocupe com ela, e afirme, logo de início, que “vamos fazer a integração Porto-Cidade”.


Sua prioridade é prover, com eficiência, as infraestruturas de acessos marítimo e terrestre que permitam a movimentação de cargas de forma ágil, com preços justos e assegurando competitividade. Mas merece atenção o fato que o complexo portuário está instalado na área urbana, relacionando-se com Santos, Guarujá e Cubatão, e assim tendo relação como desenvolvimento regional e a qualidade de vida dos moradores.


Na realidade, o Porto de Santos, ao longo de 127 anos de sua atividade organizada, pouco cuidou dessa relação. As ações eram pontuais e não institucionais, com pouco (ou nenhum) diálogo entre as partes. A partir dos anos 1990, por iniciativa da Prefeitura de Santos, a situação começou a mudar, e a nova gestão da Codesp dá sinais de percepção da importância da relação Porto-Cidade, dedicando-se a ela.


A questão que suscitou polêmicas é a destinação dos Armazéns 1 ao 8, localizados no Valongo, na região do Centro Histórico de Santos. Tais armazéns estão abandonados há muito tempo, em avançado estágio de degradação, e surgiram propostas de revitalização da área, com aproveitamento para outras finalidades, como lazer, turismo, cultura, como já aconteceu em vários portos do mundo.


Logo ao assumir a presidência da Codesp, Carvalho declarou que aquele trecho deveria ser aproveitado em funções portuárias, descartando assim propostas apresentadas pela municipalidade, e deixando de lado Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado com o Ministério Público Estadual em 2018 que previa demolição parcial e reconstrução dos armazéns com novas finalidades.


No artigo, Carvalho defende que é necessário estabelecer discussão técnica e desapaixonada sobre o uso daquela ampla área, e que o fato da recuperação dos armazéns para fins turísticos e de lazer ser antiga reivindicação da cidade não deve justificar o encerramento da questão. No entanto, é preciso cuidado: decisões não podem ser tomadas apenas por estudos de viabilidade econômica, técnica e ambiental. E realizar agora um chamamento público à iniciativa privada para receber projetos de utilização sustentáveis, sem que planos e ideias sejam desenvolvidos, pode resultar em jogo de cartas marcadas, favorável ao uso portuário.


É preciso, sim, discutir o tema com todos os atores envolvidos: Codesp, comunidade portuária, Prefeitura de Santos, sociedade civil. Só assim a integração Porto-Cidade será efetivamente praticada.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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