Ineficiência à mesa do consumidor

Apesar da lógica do estoque ser bem-vinda, o Estado como administrador da oferta se tornou malvisto

Por: Da Redação  -  12/09/20  -  09:37

O consumidor preocupado com o alto preço do arroz, mas atento e de boa memória, deve se lembrar de crises anteriores que também deixaram outros produtos subitamente caros, como carne, feijão, leite ou tomate. Se voltar ainda mais no tempo, vai se recordar da laranja dos anos 1980, que muitas vezes chegava de má qualidade aos supermercados porque as melhores eram todas exportadas quando as geadas estragavam a produção da Flórida. Portanto, nada de novo acontece agora. Trata-se do Brasil que se diz que tudo produz, mas que ao longo das décadas se revela ineficiente para gerir a oferta interna de alimentos. É provável que logo a oferta do arroz vai ser restabelecida, os preços vão se acalmar e quem pôde pagar mais, pagou. Quem não obteve condições, terá comido macarrão, como sugeriu o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Sanzovo Neto.


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uando se pensa em oferta de alimentos, a medida mais imediata é o governo desenvolver uma política de estoques. O País até tem uma estatal para isso, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Segundo dados da empresa na internet, no caso do arroz ela tem 20 mil toneladas estocadas, o que é quase nada. De acordo com o site Brazilian Rice, o País dispõe em média de 15 milhões de toneladas por ano, sendo 12 milhões consumidas e 1,2 milhão exportada. Porém, por um capricho das atuais circunstâncias – demanda dos importadores, consumo interno elevado e dólar atraente para exportar – o alimento escasseou e neste ano seu preço já subiu 19%. No curto prazo, entretanto, há um choque de alta de 100%, com especialistas afirmando que o preço do pacote de cinco quilos poderá chegar aos R$ 35 nos supermercados, frente aos R$ 10 ou R$ 12 de meses atrás.


Apesar da lógica do estoque ser bem-vinda, o Estado como administrador da oferta se tornou malvisto. Sujeito a eventuais pressões altistas de produtores lobistas, determinado governo, e isso serve para qualquer país, pode se preocupar menos com a população e agradar os que têm acesso direto a quem está no poder. Há ainda a questão do custo elevado. Manter armazéns pelo País todo exige muito dinheiro. É impensável que o Ministério da Agricultura tenha condições de estocar em volumes elevados um produto como esse. Das 20 mil toneladas atuais estocadas, elas eram 500 mil há quase uma década, mas isso para abastecer programas sociais, conforme estudos de analistas.


Frente à alta do arroz, o governo usou a ferramenta à mão – retirou a alíquota de importação de 12% sobre o arroz até o limite de 400 mil toneladas. Apesar da Conab afirmar que isso vai derrubar o preço, não se deve esquecer que o câmbio encarece a mercadorias, sendo que esta já está cara no exterior. Em meio às discussões ideológicas, não dá para ignorar a utilidade pragmática de estoques robustos. Sem isso, consome-se macarrão, até a cotação do trigo colaborar.


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