Impasse na Espanha

As dificuldades devem prosseguir, e sinalizar um país dividido, que não consegue encontrar um caminho a trilhar no futuro

Por: Da Redação  -  13/11/19  -  19:48

Foram realizadas, no último domingo, novas eleições gerais na Espanha. Foi o quarto pleito nos últimos quatro anos, na tentativa de estabelecer um governo estável no país. Como se trata de uma nação parlamentarista, o primeiro-ministro é o líder do partido (ou coalizão de partidos) que possui a maioria no Parlamento. Os resultados, porém, não produziram esse objetivo e o impasse continua. 


O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) teve novamente a maior votação, mas elegeu 120 deputados (três a menos do que na eleição realizada em abril deste ano), e ficou distante da maioria (176). O Partido Popular (PP), de centro-direita, cresceu (passou de 66 para 88 cadeiras) e o maior êxito foi da extrema-direita: o partido Vox avançou de 24 para 52 deputados. A coalizão de esquerda, Podemos-En Comú, recuou, passando de 42 para 35 assentos, mas o maior fracasso acabou sendo do centro: o Cidadãos despencou da terceira para a sexta força no país, com apenas 10 deputados (foram 57 em abril). 


O impasse prossegue, portanto. Nenhum grupo terá maioria absoluta, a menos que flexibilize bastante sua agenda. O PSOE, mesmo somado ao Podemos-En Comú, não alcança as 176 cadeiras necessárias, e dependerá dos partidos menores. Em abril, os socialistas tinham duas opções claras para conseguir a investidura no governo, uma com o Podemos, o Partido Nacionalista Basco (PNV) e a abstenção da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), e outra com o Cidadãos. Agora, o primeiro-ministro Pedro Sánchez perdeu a opção do Cidadãos e terá mais dificuldade ainda à esquerda, porque dependerá muito mais fortemente do que antes dos independentistas do ERC após uma campanha em que rompeu muitas pontes com eles.  


Consolida-se, como em outros países do mundo, a polarização ideológica entre direita e esquerda, com espaço muito reduzido para o centro. As forças conservadoras também não reúnem cadeiras suficientes para governar: ainda que se admita uma aliança entre o tradicional PP e os radicais do Vox, eles seriam 140 deputados, sem alcançar, portanto, a maioria absoluta. 


A Espanha continua diante de um gigantesco problema: como formar um governo diante de um Congresso fragmentado, com 19 partidos de todas as cores e tamanhos, vários deles representando interesses locais e regionais. Há ainda o pano de fundo do separatismo catalão, que ganhou força nas últimas semanas, a partir das sentenças no julgamento de nove líderes condenados, que foi o estopim de grandes protestos, mas que reforçou, por outro lado, o avanço de partidos à direita, que são contrários à independência da Catalunha. 


As dificuldades devem prosseguir, independentemente do governo que for formado, e sinalizar um país dividido, que não consegue, mesmo após quatro eleições, encontrar um caminho a trilhar no futuro.  


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