Imagem arranhada

Mesmo os que não acompanham de perto as questões ambientais já perceberam que a agenda do ministro Ricardo Salles está dissociada não só da preservação ambiental

Por: Da Redação  -  09/07/20  -  12:25

O cenário está bem claro: não há mais espaço, dentro e fora do Brasil, para o excesso de equívocos do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Mesmo os que não acompanham de perto as questões ambientais já perceberam que a agenda do ministro está dissociada não só da preservação ambiental como, agora, do crescimento econômico.


O último recado nesse sentido foi dado terça-feira. Líderes de 38 grandes empresas brasileiras e estrangeiras e de quatro entidades setoriais do agronegócio, do mercado financeiro e da indústria enviaram uma carta-manifesto ao presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, o vice-presidente da República Hamilton Mourão. Nesse documento, os executivos deixam evidente a preocupação com o desmatamento, pedem providências e recomendam que a retomada da economia siga a cartilha da sustentabilidade e do baixo carbono.


Em curto intervalo de tempo, esse é o segundo recado mais forte do setor econômico contra a política do ministro Salles. Há três semanas, carta assinada por 29 instituições financeiras que gerenciam US$ 3,7 trilhões em ativos alertou o governo brasileiro que colocar dinheiro estrangeiro aqui está diretamente ligado à forma como se conduzirá a agenda ambiental. De lá para cá, essa lista cresceu e já soma 32 investidores com patrimônio alcançando US$ 4,5 trilhões.


Em entrevista a A Tribuna na última terça-feira (7), a ex-ministra de Meio Ambiente e ex-senadora Marina Silva foi enfática: países que têm sua imagem arranhada nas questões ambientais são cada vez mais colocados de lado quanto a investimentos estrangeiros. E a razão é bastante lógica: as empresas - nacionais e internacionais - querem estar associadas à preservação do planeta porque já entenderam que, assim, terão mais aderência social, valor de mercado e percepção positiva da sociedade.
A postura irresponsável e negligente do ministro Ricardo Salles vem sendo construída desde que assumiu a pasta, em 2019. Foi inerte diante da calamidade que representou o derramamento de óleo nas praias nordestinas, no ano passado. Chegou a apontar como responsável o navio do Greenpeace.


Além disso, desmontou a estrutura fiscalizatória e de controle das ocupações irregulares e criminosas na Amazônia, em que predominam as queimadas e o desmatamento. Propôs, ainda, a não-utilização da Lei da Mata Atlântica para punir os infratores, medida que afronta um dos biomas mais importantes do planeta, com remanescentes originais que hoje já não chegam a 13%.
Ricardo Salles representa mal um país que quer buscar o caminho do desenvolvimento sustentável. Além disso, começa a prejudicar também a imagem do Brasil lá fora, o que significa dizer que, para além das questões ambientais, o Brasil tem grande chance de ficar de fora dos interesses econômicos tão necessários nessa pós-pandemia. Passou do tempo de trocá-lo.


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