Imóveis Retomados

As cinco maiores instituições do País fecharam 2018 com R$ 18,7 bilhões em bens retomados em garantia de empréstimos que não foram pagos, e 90% desse valor se refere a imóveis

Por: Da Redação  -  20/04/19  -  20:45

Um dos sinais mais evidentes da profunda crise econômica recente pode ser notado a partir da retomada de imóveis por parte de bancos e instituições financeiras, que aconteceu de forma expressiva em função da inadimplência daqueles que solicitaram financiamentos para aquisição dos bens. As cinco maiores instituições do País - Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e Caixa - fecharam 2018 com R$ 18,7 bilhões em bens retomados em garantia de empréstimos que não foram pagos, e 90% desse valor se refere a imóveis. 


O estoque já vinha crescendo desde 2015, mas voltou a dar um salto no ano passado, quando cresceu 32,3%. Em dois anos, o aumento chegou a 78%, e nota-se o drama que envolve a questão: nos períodos mais recentes, houve muitos imóveis de valor mais baixo, muitos deles adquiridos dentro do Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), operado principalmente pela Caixa.


Ressalvados alguns casos isolados, ninguém deixa de pagar a prestação do crédito imobiliário por vontade própria. A maioria, ao contrário, realizou o grande sonho de sua vida ao conseguir comprar suas casas ou apartamentos. E é trágico ver esses planos desmoronarem, com a perda dos imóveis, com prejuízos em relação ao que já havia sido pago anteriormente. O desemprego é o grande responsável pela inadimplência: milhões perderam seus postos de trabalho entre 2015 e 2017, e foram forçados a entregar as unidades que haviam comprado.


Essa situação é extremamente desconfortável para os bancos. Eles são operadores financeiros, concedendo crédito e cobrando juros por isso, e não administradores de imóveis devolvidos. O grande volume de unidades nessa condição consome capital das instituições, obrigadas a constituir provisões contra perdas desses ativos: no fim de 2018, as reservas já atingiam R$ 5,8 bilhões.


Com a economia fraca, não são encontrados compradores facilmente para tantos imóveis. São realizados leilões para a venda individual desses bens, o que limita o alcance das ofertas, e sua divulgação não atinge o público que poderia ter interesse na aquisição, fazendo com que os valores obtidos acabem ficando abaixo dos níveis de mercado. Diante dessas dificuldades, há iniciativas para a venda em bloco, com a oferta a investidores institucionais de lotes de imóveis com características comuns.


Apesar de certa melhora no mercado - a venda de imóveis residenciais cresceu 50,3% em fevereiro deste ano, na cidade de São Paulo, na comparação anual - o processo de limpeza dessas carteiras será lento e demorado, e depende, principalmente, da recuperação econômica. Só ela reduzirá a inadimplência (e a retomada dos imóveis), fazendo com que diminua o estoque atual, abrindo-se novo ciclo, com compradores interessados e bancos realizando seu papel, que é fornecer crédito. 


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