Idas e vindas descoordenadas

O que espanta é que, horas depois, o próprio Bolsonaro mudou radicalmente sua decisão e chamou o ministro Paulo Guedes

Por: Da Redação  -  08/05/20  -  12:00

A derrubada dos juros básicos da economia pelo Banco Central para 3% ao ano, algo impensável pouco tempo atrás, era a medida que se esperava do Banco Central para reduzir o custo dos empréstimos e estimular a economia em tempos tão difíceis já em curso. Entretanto, se essa notícia é um alento de um lado, do outro o Palácio do Planalto se esmerou nesta semana como uma usina de iniciativas de potencial destrutivo sobre a amenização dos danos da covid-19 na economia.


Em ato surpresa, o presidente da República levou um grupo de empresários para pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) pelo fim do isolamento social, um sinal claro de que pretende dividir com os outros poderes o ônus do desastre da pandemia, tanto na economia como na saúde. Apesar das medidas adotadas pelo Ministério da Economia para socorrer autônomos, empresas e pessoas físicas, Jair Bolsonaro deu novo sinal de que não tem um planejamento global para a sustentação do País nos próximos meses – o foco presidencial está claramente voltado para 2022. É preciso repetir sempre – não tem sentido pensar em reabrir comércio e serviços em um momento de aceleração dos casos de contaminação e morte pela pandemia do novo coronavírus. A decisão pela retomada precisa estar referendada por análises técnicas e números, hoje altamente desfavoráveis ao convívio social. 


Além da caminhada surpresa do presidente rumo ao STF, corrobora para o entendimento de que os movimentos do presidente estão sem rumo o fato de um dia antes, na quarta-feira à noite, Bolsonaro ter contrariado sua equipe econômica. Segundo seu próprio líder de governo na Câmara, Major Vitor Hugo, Bolsonaro autorizou a possibilidade de haver reajustes salariais do funcionalismo nos próximos dois anos, apesar da penúria do caixa de estados e municípios e da própria União para pagar aumentos numa fase em que toda a sociedade deverá sofrer muitas perdas financeiras. 


O que espanta é que, horas depois, o próprio Bolsonaro mudou radicalmente sua decisão, chamou o ministro Paulo Guedes e prometeu publicamente vetar o reajuste – o congelamento salarial estava previsto no projeto de auxílio aos estados e municípios. É provável que o Parlamento nem vá tentar derrubar a decisão do presidente, 


A descoordenação fica mais clara ainda porque a mais nova ação presidencial contra o isolamento – a ida ao STF – se deu também um dia após o ministro da Saúde, Nelson Teich, admitir pela possibilidade do lockdown. Essa medida impõe mais restrições à circulação da população, o que na prática frustra a reabertura da economia.


É tanta ida e vinda do governo, que a queda drástica da taxa Selic perdeu espaço no noticiário. Infelizmente, o corte da taxa terá efeito mitigado devido à baixa demanda por crédito. Mas se houvesse paz no governo, o impacto da Selic de 3% seria muito mais efetivo.


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