Hidroxicloroquina

É prematuro, a esta altura, descartar o uso do medicamento bem como imaginar que ele é o elixir da salvação

Por: Da Redação  -  09/04/20  -  10:39

Segue a polêmica sobre a hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com a covid-19. Na área científica as opiniões se dividem: alguns especialistas apontam que nos últimos dois meses publicações em revistas de renome internacional já mostraram benefícios para o tratamento dos doentes, como aconteceu com trabalho do médico francês Didier Raoult, seguido por pesquisadores chineses; e, de outro, estudos preliminares da Fiocruz e pela Fundação de Medicina Tropical mostraram que a letalidade no grupo de pacientes testados com a covid-19 em estado grave que receberam a hidroxicloroquina foi de 13%, muito próxima da verificada em pacientes que não receberam a droga (18%).


É prematuro, a esta altura, descartar o uso do medicamento bem como imaginar que ele é o elixir da salvação. Há discussões sobre o momento de administrá-lo: apenas para pacientes em estado grave, que já estão na fase inflamatória da doença, ou em tratamentos precoces, como alguns protocolos em hospitais já preveem. Nesse momento, deve prevalecer a opinião médica: esta é a posição do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que recuou de sua posição que era a recomendação do uso apenas para pacientes em estado crítico, e reconheceu que os médicos devem ser os responsáveis pela prescrição da hidroxicloroquina.


Estudos e pesquisas precisam ser desenvolvidos. O infectologista Marcus Lacerda, da Fiocruz, prevê que 440 pacientes, de diferentes hospitais, sejam testados, em trabalho que pode durar ainda de dois a três meses. Outra pesquisa, liderada pelos hospitais Albert Einstein, HCOr, Sírio Libanês e pela BRICNet já tem 43 pacientes, em sete hospitais, usando o medicamento, e a meta é chegar a 1.356 em 81 instituições, com a previsão que os resultados definitivos possam sair em dois meses.


Até lá é preciso cautela e atenção. A hidroxicloroquina, aplicada isoladamente ou em combinação com outros medicamentos (como o antibiótico azitromicina ou os antivirais favipiravir, remdesivir e kaletra), não pode se tornar tema de polarização político-ideológica, como vem acontecendo no Brasil. Há, por enquanto, hipóteses e dúvidas, como, por exemplo, sobre a dosagem da substância: quando aplicada em quantidades maiores, os resultados são perigosos, com reações indesejadas, como arritmias e outras complicações graves.


A pesquisa deve continuar e ser aprofundada. Na medida em que a vacina contra a covid-19 ainda está distante, a busca de remédios que possam curar e atenuar os efeitos do coronavírus precisa ser incentivada, mas com responsabilidade e sem a ilusão que se trata da solução final para o problema. É necessário ainda considerar que, no mundo, em países com dezenas de milhares de doentes, as atenções com a hidroxicloroquina são muito menores, e restritas ao ambiente científico e médico. 


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter