Há saídas para o Centro Velho

Já basta de planos esmerados na apresentação mas pouco efetivos na realização

Por: Da Redação  -  18/04/21  -  23:40
  O momento pelo qual passa o Centro Histórico de Santos não é diferente de outras localidades
O momento pelo qual passa o Centro Histórico de Santos não é diferente de outras localidades   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Bairros e cidades históricas, com extenso patrimônio arquitetônico protegido pela legislação, sempre desafiaram os governos. Conservar imóveis e ambientes de valor arquitetônico é permitir às gerações futuras contato com seu passado, conhecimento sobre a forma como viviam as sociedades antigas, como manejavam com as atividades laborais, que valores tinham e como lidavam com eles. Preservar essa cultura não é capricho de governos, mas obrigação e dever de ofício.


Não deveria haver dilema entre preservar e renovar não fossem as circunstâncias que envolvem, em geral, os custos para manter imóveis antigos, especialmente os que têm maior rigor na proteção.


O momento pelo qual passa o Centro Histórico de Santos não é diferente de outras localidades que viram, ao longo dos anos, o esvaziamento de atividades em benefício de bairros mais modernos e uma nova forma de viver e comprar. No passado, eram os bairros da região central os mais nobres para famílias ricas viverem, e era também o local onde mantinham seus comércios. Com o passar dos anos e a busca por moradias mais próximas da orla, no centro passaram a predominar apenas as atividades comerciais, bancárias e de serviços públicos.


Nos últimos dez anos, o esvaziamento se tornou latente, e a ele estão associados problemas como falta de segurança e de zeladoria em vias públicas e praças. A Prefeitura acena com a revisão do Alegra Centro, aprovada em 2019, e que tornará mais flexíveis as regras para preservar imóveis com níveis de proteção muito rigorosos. Aos quatro níveis antes existentes, mais dois foram acrescentados, permitindo que, em alguns casos, algumas concessões possam ser feitas para que o restauro se viabilize.


Em algumas vias do Centro Histórico, na área de proteção cultural mais densa, só há ruínas do que foram imponentes casarões no passado. Restaurar não é tarefa simples ou barata. Pelo contrário. Reportagem publicada ontem neste jornal mostra a soma do que gastou o proprietário de imóvel localizado na esquina das ruas Senador Feijó com General Câmara: R$ 3,5 milhões. O resultado final supera em muito qualquer expectativa que se tinha para aquele trecho, mas a pergunta que fica é simples: quantos donos de imóveis dispõem desse volume de recursos para recuperar suas propriedades?


A Prefeitura tem dito que uma das saídas para o Centro voltar a ter relevância é a habitação, mas esse caminho passará, necessariamente, pelo conjunto de benefícios aos donos desses imóveis. Quer seja para morar, quer seja para instalar comércio ou serviços, será preciso contar com o interesse e os recursos de quem tem a posse dos imóveis. Já basta de planos esmerados na apresentação mas pouco efetivos na realização. O tempo já provou que não funciona. O Centro e os comerciantes que lá estão merecem mais agilidade na concretização de políticas públicas assertivas e perenes.


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