Guedes e a austeridade

O rombo já está em níveis preocupantes e com uma economia fraquíssima sem condições de melhorar a arrecadação

Por: Da Redação  -  08/09/20  -  09:15

A briga do ministro da Economia, Paulo Guedes, com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tornada pública após desabafo do parlamentar, mostrou que o denominado Posto Ipiranga do presidente Jair Bolsonaro atingiu seu momento mais frágil no governo.


Tanto que, segundo alguns analistas, no próprio mercado já se vislumbra que a saída de Guedes não será o caos que se profetizava semanas atrás. Pode-se não gostar do ministro ou de suas ideias liberais, mas está evidente que desde a campanha eleitoral bolsonarista ele tem sido o centro da necessidade de levar o País para o rumo da modernidade e do crescimento econômico sem desrespeitar as regras da austeridade fiscal.


Até hoje ainda se usa a expressão do “pacote” para batizar algum plano novo do governo para determinado fim, mas essa palavra é herança das cartadas mirabolantes e populistas que prometiam corrigir a economia no curto prazo. Pelo contrário, resultaram em crises estruturais ou ciclos de avanço e recuo que impediram o Brasil de dar passos mais largos, como na Ásia.


O aperto do presidente na equipe econômica para preparar um Bolsa Família mais encorpado com o valor mágico de R$ 300 por mês – sem recursos públicos para financiá-lo – sinalizou que o Palácio do Planalto abraçava a sedução da austeridade fiscal frouxa para ganhar popularidade e, em 2022, muitos votos.


Guedes ficou contra a parede, mas aparentemente conteve a ideia do centro nervoso do governo de estimular o crescimento do País por meio dos investimentos estatais, apesar do rombo já estar em níveis preocupantes e com uma economia fraquíssima sem condições de melhorar a arrecadação. Além disso, falta força política no Congresso para embutir na reforma tributária uma nova CPMF, esforço que se cobraria da sociedade devido ao fracasso de reduzir o gasto da esfera pública.


Com o alívio de Guedes, Bolsonaro reduziu um pouco a presença do tema da renda mínima em seus discursos. Talvez porque tenha ficado satisfeito com o impacto positivo sobre esse tema no noticiário. Já se tornou um costume do presidente ficar vários dias repetindo que vai tomar uma medida, mesmo que ela não esteja pronta, para anunciá-la definitivamente após alguns adiamentos. Foi o caso do auxílio emergencial, do qual já se antevia uma dificuldade imensa para ser mantido em R$ 600 mensais até dezembro. Como se imaginava, ficou nos R$ 300.


Guedes, rompido com Maia, fica sem trânsito no Congresso, o que o faz depender de seus colegas militares ou componentes do Centrão que não têm a austeridade fiscal na veia. Caso ele se enfraqueça mais ainda e acabe deixando o governo, Bolsonaro não enfrentará dificuldades para encontrar substitutos. Porém, um novo nome não terá o peso de um ideólogo como Guedes ou de uma estrela da economia que tem o respeito do mercado. Manter o governo na rédea curta da austeridade será bem mais difícil.


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