O balanço da greve geral convocada na sexta-feira (14) pelas centrais sindicais mostra que a paralisação foi bastante reduzida, concentrada em algumas cidades, e limitada à interrupção parcial do transporte coletivo, além de alguns protestos localizados. Poucos setores aderiram à greve, como foi o caso dos petroleiros. Predominaram grupos organizados que promoveram manifestações com interrupção do trânsito, como aconteceu na Avenida Martins Fontes, na entrada de Santos, na madrugada de sexta-feira.
A oportunidade do movimento pode ser questionada. Convocado contra a reforma da Previdência e o corte de verbas na Educação, aconteceu exatamente no dia posterior à apresentação do relatório do deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) na Comissão Especial da Câmara que aprecia o projeto de mudanças previdenciárias. Destaque-se que a versão apresentada introduziu importantes alterações na proposta original, indo ao encontro a várias reivindicações de sindicatos e da oposição, como a manutenção do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e da aposentadoria rural, bem como retirando do texto a desconstitucionalização e o modelo de capitalização.
No mesmo sentido, nesta semana o Congresso aprovou, por unanimidade, projeto que liberou crédito de R$ 248,9 bilhões, impedindo que fosse descumprida a “regra de ouro”, que proíbe que o governo faça dívidas para o pagamento de despesas correntes. Na negociação realizada foi incluída a liberação de R$ 1 bilhão de recursos para a Educação e mais R$ 330 milhões para bolsas de estudo e pesquisa.
Não se trata de negar a legitimidade dos protestos, nem do direito de manifestação contra a atual política econômica do governo. Reformas na Previdência são polêmicas e despertam resistências em todos os países do mundo, e é normal que haja protestos na sociedade. Não é a melhor estratégia, porém, convocar greve geral exatamente no momento em que acordos e negociações são promovidos.
Além disso, interromper o transporte coletivo - principal instrumento nas paralisações - acaba por prejudicar a população trabalhadora, impondo a ela dificuldades e transtornos. A tática de bloqueio do trânsito em rodovias e em avenidas de grandes cidades também é muito duvidosa, trazendo críticas generalizadas daqueles que precisam se movimentar, principalmente para o trabalho.
Pode-se dizer que o movimento, em geral, foi muito fraco e concentrado. Teria sido muito mais sensato aguardar o momento oportuno para promover manifestações e protestos, e realizá-los em um domingo, ocasião em que milhares de pessoas poderiam comparecer a eles, de forma organizada. Do jeito que foi feito, acabou por resumir-se a mobilizações de categorias específicas, e representar um movimento minoritário, com pouca expressão e dissociado da realidade nacional.