Governo e redes sociais

Há evidências que o presidente Jair Bolsonaro, mesmo sob algumas críticas, tem intensificado o acompanhamento dos canais digitais, utilizando-os como bússola para a tomada de decisões

Por: Da Redação  -  06/02/20  -  18:47

Analistas avaliaram as decisões do presidente Jair Bolsonaro em janeiro e concluíram que elas tiveram forte correlação com manifestações das redes sociais. Quando anunciou que poderia recriar o Ministério de Segurança Pública, desmembrando-o da Justiça, e enfraquecendo o ministro Sergio Moro, as reações negativas foram grandes.


No dia 23, o Índice de Sentimento da empresa Arquimedes (ISA), que mede postagens nas redes, em que 0 é totalmente negativo para o governo e 100 é totalmente positivo, registrou apenas 26 pontos; um dia após, quando Bolsonaro recuou e disse que não havia chance de esvaziar o ministério de Moro, ele mais que dobrou, passando a 60.


Da mesma forma, a demissão do secretário-executivo da Casa Civil, Vicente Santini, pelo uso de um jato da FAB para viagens a Davos, na Suíça, e à Índia, mostrou que, no dia 29, quando foi readmitido como assessor especial, o ISA caiu a 21 pontos; no dia seguinte, com a afirmação do presidente que ele seria definitivamente afastado, o ISA foi a 69 pontos.


Há evidências que Bolsonaro, mesmo sob algumas críticas, tem intensificado o acompanhamento dos canais digitais, utilizando-os como bússola para a tomada de decisões. O objetivo principal seria evitar a todo custo a deterioração de sua base de apoio, mesmo que isso se faça contrariando recomendações de assessores diretos.


A preocupação está, portanto, mais dirigida àqueles que defendem o presidente e o governo de maneira praticamente incondicional. Isso explica por que Bolsonaro não agiu contra o ministro Abraham Weintraub, da Educação: as críticas negativas nas redes sociais das falhas no Enem foram identificadas como vindo da oposição e da esquerda, sem envolvimento da base eleitoral do presidente, o que o motivou a sair em defesa do ministro, cogitando o risco de sabotagem no exame. 


Todo político preocupa-se com a opinião de seus eleitores. Isso não é novidade, mas atualmente os recursos tecnológicos oferecem formas de monitoramento que não existiam em épocas passadas. No caso atual, trata-se de manter o núcleo duro de apoio do presidente, calculado em 12% da população, e tentar ampliar esse percentual para 14%.


É problemático, porém, governar de olho em um segmento, descuidando do restante. Deve ser considerado que o presidente teve maioria dos votos válidos, e boa parte deles veio de pessoas que concordam com as ações contra a corrupção e defendem as mudanças econômicas, mas que se colocam contra exageros ideológicos e a pauta de costumes defendida pelo governo federal.


Um governo não pode apenas responder ao eleitorado: precisa ter a capacidade de enfrentar a opinião pública, baseado em propostas claras e objetivas, que podem desagradar a alguns, mas que se justificam com o passar do tempo.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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