Fura-fila da vacinação

Essa prática também é resultado da desorganização e atraso da execução da imunização pelo país

Por: Da Redação  -  23/01/21  -  09:40

As denúncias contra os fura-filas na aplicação de doses da vacina contra o novo coronavírus em alguns estados, inclusive São Paulo, são resultado do individualismo e de abusos de autoridades que acham que o setor público está aí para favorecê-las. Mas essa prática também é resultado da desorganização e atraso da execução da imunização pelo País.


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Segundo investigações iniciadas pelo Ministério Público, há registros de filhos de deputados do Amazonas e de prefeitos e de secretários de Saúde de outras regiões do País que tomaram o imunizante antes do atendimento dos profissionais que estão na linha de frente para atender os pacientes e os idosos em estabelecimentos de longa permanência. Estes sim têm prioridade devido aos riscos elevadíssimos de contaminação e de alta internação e de mortalidade. Uma vez protegidos, será reduzida a circulação do vírus em polos de grande incidência, ao mesmo tempo em que vai dispor o sistema de saúde, no caso dos hospitais e postos de saúde, de mais profissionais - hoje os afastamentos para internação por covid-19 comprometem o número de funcionários preparados para cuidar da população.


Ontem, equipes do próprio Hospital das Clínicas de São Paulo reclamaram que professores e alunos em home office do HC foram vacinados antes dos prioritários, uma falta de bom senso da direção. Entretanto, se o Ministério da Saúde tivesse investido em mais de uma vacina contra a covid-19, provavelmente agora não teria sido necessário realizar um começo de imunização tão restrito. Segundo balanço divulgado pelo G1, a cobertura da população chega a 28% em Israel para a primeira dose e por volta de 10% para a segunda.


Nos Emirados Árabes Unidos, o percentual é de 20% e no Reino Unido de 7%. Nos Estados Unidos, país que tem dimensões continentais e população elevada como o Brasil, já são quase 5% de vacinados, apesar das queixas de desorganização. No Brasil, o balanço é lastimável, de apenas 0,09%. Em resumo, a vacinação por aqui é praticamente simbólica e é realizada a passos lentos. Pelo menos a divulgação pela imprensa tem impacto educativo sobre a população e pode ajudar a convencer os mais reticentes e os que seguem o negacionismo do presidente Jair Bolsonaro, que deve ser responsabilizado pelo início tão demorado e incipiente do PNI contra a covid-19.


Com a chegada das doses indianas da parceria da AstraZeneca com a Universidade de Oxford mais Fiocruz e a segunda autorização da CoronaVac, do Instituto Butantan, anunciada ontem pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a campanha finalmente poderá deslanchar de uma forma mais organizada e justa. Além de ampliar a cobertura vacinal dos idosos, poderá ser ampliado o alcance da imunização prioritária, como pacientes de comorbidade, policiais e professores, estes para viabilizarem a volta das aulas presenciais.


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