Formação de professores

Para mudar a carreira de professor é preciso rever as regras do funcionalismo público

Por: Da Redação  -  04/10/19  -  12:18

Um dos pontos apontados por especialistas como decisivo para a melhoria da qualidade do ensino no Brasil é a adequada formação de professores. Programas na área, com treinamento efetivo e contínuo, combinado com maior remuneração e valorização profissional, provocaram mudanças importantes em vários países do mundo, que hoje se destacam nos testes e provas internacionais. 


Infelizmente, não é o que tem acontecido no País. Há tentativas de mudar esse quadro e, nesse sentido, o Conselho Nacional de Educação (CNE) colocou em consulta pública a minuta de diretrizes para a formação de docentes. Entre as mudanças está a exigência de inclusão de residência na carreira, como já acontece nos cursos de medicina, prática que seria diluída ao longo dos quatro anos de graduação.


Para mudar a carreira de professor é preciso rever as regras do funcionalismo público. Como defende a organização não governamental Todos pela Educação, o indicado seria atrelar a progressão na carreira ao desenvolvimento de competências dos docentes, como fazem países bem-sucedidos na área, como Austrália, Chile e Reino Unido. Trata-se, portanto, de ir além dos critérios de tempo de serviço e titulação, e exigir resultados práticos e concretos no processo de aprendizagem, obtidos pela criatividade e desempenho dos professores. Isso é passível de avaliação objetiva a partir de parâmetros educacionais mais altos que já são notados em vários municípios e Estados brasileiros.


Há ainda outro problema que merece atenção das autoridades e da comunidade acadêmica. Ele diz respeito à proliferação do ensino a distância (EaD) nos cursos de pedagogia, sem que o Ministério da Educação tenha tomado medidas para evitar as consequências negativas disso. A melhor política para educação básica, defende o Todos pela Educação, é a formação inicial dos professores, e o EaD estaria "estrangulando" o País ao despejar profissionais despreparados nas redes de ensino.


A solução não é proibir os cursos de Pedagogia em EaD, e sim fiscalizá-los e garantir padrão de qualidade. Além disso, é necessário tratar do aspecto prático - o treinamento dos futuros docentes em sala de aula - que não existe nesses cursos, essencialmente teóricos. O modelo vigente faz com que milhares busquem essa modalidade, mais fácil e barata, que acaba por atrair alunos para cursos com péssimo currículo, sem prática alguma. 


A valorização da carreira passa ainda por atrair jovens para o exercício da docência, e exigir deles uma nota de corte no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para o ingresso na licenciatura. Hoje, segundo o Todos pela Educação, 20% dos alunos que vão para os cursos de pedagogia e licenciatura têm nota entre 450 e 500 no Enem, e não poderiam sequer ter o diploma do ensino médio. 


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