Fenômeno Flamengo

A recente conquista dos títulos de campeão brasileiro não é apenas um fato esportivo, mas merece a atenção pela excelente campanha desenvolvida pelo clube

Por: Da Redação  -  28/11/19  -  11:08

A recente conquista dos títulos de campeão brasileiro e da Copa Libertadores da América deste ano pelo Flamengo não é apenas um fato esportivo, que merece a atenção pela excelente campanha desenvolvida pelo clube. As vitórias, na realidade, são o resultado de boa gestão administrativa e financeira realizada nos últimos seis anos.


A dívida do Flamengo foi reduzida de R$ 750 milhões para R$ 460 milhões. Desta forma, foi possível investir R$ 190 milhões no ano passado (em 2014 foram apenas R$ 22 milhões), o que permitiu fazer contratações importantes e montar uma equipe forte e competitiva. O exemplo mostra que é possível mudar a mentalidade e o amadorismo que têm prevalecido no futebol brasileiro, e mostra novos caminhos a trilhar.


Se o clube conquistar o título mundial no Catar, em dezembro, a receita deste ano poderá chegar a R$ 950 milhões, bem acima dos R$ 595 milhões do ano passado, e o Flamengo deverá ser o primeiro time bilionário do País. Mesmo assim, e não obstante sua enorme torcida, estimada em 40 milhões de pessoas, ficará muito abaixo da arrecadação de clubes como o Real Madrid, cuja receita chegou a mais de R$ 3,5 bilhões em 2018.


A situação da equipe rubro-negra do Rio de Janeiro contrasta com a péssima situação de vários clubes brasileiros. Pelo menos metade daqueles que disputam a série A do Campeonato Brasileiro tem problemas financeiros graves, que se arrastam há muito tempo. O assunto vem ganhando importância, e há iniciativas para mudar o atual quadro. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) deve anunciar, ainda neste ano, um programa que irá avaliar a situação econômico-financeira de cada clube (o Fair Play Financeiro), a exemplo do que já acontece na Europa. No Congresso Nacional tramitam dois projetos de lei para viabilizar a transformação do atual modelo de clubes sociais para empresas com avanços em governança.


Não se trata apenas de sanear as finanças dos clubes; é preciso resolver sua estrutura política, que ainda segue valores e princípios do amadorismo, e tem sido marcada por voluntarismo, improvisação e personalismo de dirigentes. Há, porém, dificuldades para promover mudanças: a isenção de impostos que existe, em razão de serem os clubes associações sem fins lucrativos, e a falta de visão de negócios das diretorias atuais são entraves à adesão ao modelo empresarial.


O futebol é a grande paixão nacional e exige tratamento diferenciado. O êxito das grandes equipes europeias – tanto no aspecto financeiro como esportivo – mostra claramente que é possível manter o interesse, a torcida e a emoção em ambiente de estabilidade. Mais do que isso: o equilíbrio econômico é condição absolutamente necessária para que um clube possa, de fato, crescer e ter êxito nas disputas, como atesta o caso atual do Flamengo.


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