Faltam contêineres

No Brasil, problema deverá ser notado e impactar as exportações a partir de abril, principalmente nos setores de alimentos e produtos químicos

Por: Da Redação  -  06/03/20  -  19:07

A epidemia de coronavírus na China começa a trazer problemas para a logística portuária. Empresas de navegação e exportadores preocupam-se com a provável falta de contêineres no mercado global. No Brasil, o problema deverá ser notado e impactar as exportações a partir de abril, principalmente nos setores de alimentos e produtos químicos que precisam de equipamentos refrigerados.


Há escassez de contêineres em função da paralisação das atividades na China desde o fim de janeiro, e que provocou o fechamento dos terminais portuários e a interrupção do tráfego de caminhões, com acúmulo de cargas por todo o país.


A Maersk, maior companhia de navegação marítima mundial, está preocupada com contêineres não descarregados na China e que vão, portanto, demorar a ser disponibilizados em outros países. Destaque-se que uma viagem entre a China e o Brasil demora cerca de um mês, provocando efeitos retardados, mas reais, na disponibilidade dos cofres de carga.


Há um agravante sazonal: a demanda por contêineres refrigerados costuma aumentar no segundo trimestre do ano, em função da safra de frutas no Hemisfério Sul. Mesmo que a situação melhore nas próximas semanas, a proximidade desse período e o longo prazo para que os cofres de carga cheguem aos portos brasileiros, indica que em abril deverá haver problemas, com disputa mais acirrada entre os exportadores pelos contêineres, o que deve elevar seus preços.


As empresas de navegação reconhecem o problema, e afirmam que não será fácil remanejar os contêineres da Ásia que estão ficando parados. Há possibilidade de trazer equipamentos adicionais vazios para atender à demanda, mas há limites a essas operações, além de demandarem tempo razoável. O problema não se restringe ao Brasil: produtores de celulose do Hemisfério Norte, que também utilizam contêineres, têm relatado a falta de equipamentos.


Há perspectiva de normalização da operação logística comercial na China, que começa a existir. No entanto, os principais terminais de contêineres (em Xangai, Xingang, Tanjin e Ningbo) seguem lotados, e alguns já estão cobrando “taxas de congestionamento” dos clientes com carga refrigerada, diante da lotação.


A interrupção do fluxo de navios para o Brasil também causa problemas nas importações nacionais e há sete semanas os armadores já têm relatado cancelamentos de viagens e maior ociosidade das embarcações, que deverá resultar em retração de 35% a 40% no volume de carga importada. Diversos fabricantes já sofrem com a falta de peças importadas da China, comprometendo as cadeias produtivas.


A boa notícia é que as fábricas chinesas já retomaram sua operação regular, e a movimentação de caminhões e ferrovias chega a 60% do habitual. Mas os impactos ainda serão sentidos e as preocupações são justificadas. 


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