Entre caciques e outsiders

O xadrez político deste ano está bem complicado e o futuro muito incerto para planos audaciosos

Por: Da Redação  -  01/09/20  -  09:11

Com a articulação e definição de nomes para a campanha das eleições municipais atrasadas pela pandemia, ainda não está claro se o próximo pleito vai repetir o furacão de 2018, que emplacou outsiders, candidatos fora do establishment da política partidária, e o conservadorismo. A fórmula tem chances de ser replicada, não toda a ênfase de dois anos atrás, mas enfrentará a força do caciquismo nos municípios, ágil na composição de apoios e atração de legendas, mas sujeita à pressão direta do eleitor e aos resultados nas prefeituras. Entretanto, o que interessa ao cidadão é a apresentação de candidatos dispostos a enfrentar tempos de caixas muito mais magros e desafiadores para a saúde e a geração de empregos.


Em Santos, conforme A Tribunapublicou na edição de domingo, em uma situação inédita desde que a Cidade voltou a eleger seu Executivo, ex-prefeitos não devem se candidatar. O mesmo se verifica entre os deputados, que preferem se dedicar apenas à Assembleia Legislativa ou ao Congresso. Nas capitais do Estado e do Rio de Janeiro, as disputas devem conferir um pouco mais de emoção por envolverem as campanhas de reeleição dos atuais prefeitos.


No caso dos outsiders, o eleitor tem apenas o exemplo dos deputados, senadores e governadores de primeira viagem para saber se a guinada do voto às vésperas de ir às urnas em 2018 valeu a pena. Em relação aos chefes do Executivo nos estados, vindos dessa condição de outsider, o que se vê é muita dificuldade para consolidar a liderança e processos de impeachment originados por descuido na formação de bases de apoio. Aliás, infelizmente, ainda não se desenvolveu no Brasil uma forma de se obter apoio que não seja o de fatiar o governo e distribuir cargos – e isso vale para municípios, estados e União.


Porém, a pandemia, assim como atrasou o processo eleitoral, não só a data do primeiro turno, 15 de novembro, mas todas as composições, deve embolar o debate entre rivais. É bem possível, como se vê na Europa com milhares de casos voltando a serem registrados por dia em uma espécie de segunda onda, que a disseminação da doença continue em transmissão por aqui. Aquele temor dos prefeitos de abrirem suas economias e serem acusados eleitoralmente de rigidez e insensibilidade com o emprego dos mais pobres, não terá muito sentido, pois nem a etapa da pandemia terá sido superada. Além disso, ambições futuras e voos mais altos, inclusive dos novatos, se encontram altamente desestimulados. Há possibilidade séria sobre insolvência do setor público no pós-pandemia, sem espaço para entregar obras e serviços.


O xadrez político deste ano está bem complicado e o futuro muito incerto para planos audaciosos. Na economia, os tempos serão difíceis, mas a saúde também estará no foco do eleitorado. Espera-se que a população seja sábia para eleger nomes capacitados para tantos desafios, pois não se deve dar espaço para aventureiros e demagogos.


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