Nos últimos anos avançaram, em todo o mundo, investimentos em energias renováveis (energia solar, eólica e biocombustíveis). Houve pesquisa nessa área, reduzindo custos de produção, e fortes subsídios, especialmente em países europeus. As ameaças do aquecimento global pressionaram ainda mais esse movimento, em esforço crescente para a descarbonização da economia global, com a redução do uso de combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás natural.
Grandes petroleiras, como a BP, Equinor, Shell e Total, passaram a dar mais atenção à chamada energia limpa, pressionadas por seus acionistas e pela sociedade em geral, preocupada com a emissão de gases de efeito estufa. Esse ambiente pode, porém, sofrer alterações significativas. Com o choque recente do petróleo, que derrubou o preço do barril, o panorama foi modificado.
A avaliação é que, com preços altos, a indústria petrolífera tinha caixa suficiente para investir em estratégias de mitigação de carbono, mas, agora, o setor terá que lutar para gerar recursos suficientes para manter suas operações e cumprir seus compromissos com os acionistas. Há, porém, outro lado na questão: o petróleo mais barato deve derrubar a taxa de retorno de projetos de óleo e gás, equiparando-os, em alguns casos, a projetos de energias renováveis. Especialistas apontam que, se no cenário de petróleo a US$ 60 por barril, as taxas de retorno de energia solar e eólica, entre 5% e 10%, não competiam com a alta rentabilidade dos projetos petrolíferos. Isso muda com preços abaixo de US$ 35.
A conjuntura internacional de produção e consumo de petróleo ainda é incerta. Não se sabe se os preços continuarão baixos por muito tempo (o FMI projeta recuperação da economia global em 2021), mas um fato é inconteste: a transição energética para matrizes renováveis irá prosseguir, embora seu avanço não seja linear e contínuo.
Nesse sentido, preocupa o fato que a Petrobras, ao contrário de outras grandes petroleiras, ainda tenha ações tímidas em relação a energias renováveis. A empresa continua concentrada em óleo e gás, e busca a maior eficiência e produtividade no setor. Tal objetivo é correto e necessário, mas deveria ser acompanhado de maior abertura e interesse pelas energias limpas. O orçamento total da Petrobras para o setor é de US$ 850 milhões até 2024, apenas 1% de seu plano de negócios. O foco continuará limitado à Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), para “ganhar competências”, como destacou o gerente-executivo de estratégia da companhia, Rafael Santos, para só então aumentar sua presença na geração das energias renováveis.
Na carteira de P&D da estatal estão uma planta de energia solar em Campos dos Goytacazes (RJ) e o desenvolvimento do diesel renovável. É pouco, porém, e a timidez atual pode custar caro no futuro.