Empresa e Pesquisa

Costuma-se afirmar que há, no Brasil, enorme distância entre o trabalho realizado nas universidades, notadamente as públicas, e empresas em geral

Por: Da Redação  -  11/01/20  -  20:10

Costuma-se afirmar que há, no Brasil, enorme distância entre o trabalho realizado nas universidades, notadamente as públicas, e empresas em geral. Os estudos teriam caráter teórico exclusivo, sem interessar ao setor privado. O resultado disso seria o baixo investimento do País em pesquisa e desenvolvimento (P&D), comprometendo a competitividade nacional. Destaque-se que P&D normalmente se refere a atividades de longo prazo e orientadas ao futuro, relacionadas à ciência ou tecnologia, usando técnicas similares ao método científico sem que haja resultados pré-determinados, mas com objetivos de algum benefício comercial.


Estudo desenvolvido pelo físico e diretor-científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Henrique Brito Cruz, desmente tal conclusão, e mostra que a interação entre universidades públicas e empresas é subestimada no País. O número de artigos científicos realizados em coautoria entre pesquisadores da academia e da indústria cresceu a uma taxa média de 14% ao ano entre 1980 e 2018, passando de pouco mais de uma dezena para 1,5 mil no final do período.


Apesar de não existir indicadores confiáveis e levantamentos sistemáticos sobre a colaboração empresa-universidades, esses números mostram que o panorama vem se alterando de modo bastante significativo nos últimos anos. A maior interação tem sido restrita, porém, a poucas instituições: 72% dos artigos comuns escritos pertencem a dez universidades, com destaque para a Universidade de São Paulo, com 2,7 mil deles produzidos entre 2009 e 2018, mais do que o dobro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1,1 mil artigos no período).


A Petrobras se destaca entre as empresas que mais publicaram artigos em coautoria (543 entre 2015 e 2017, 13% do total analisado), mas chama a atenção a presença de laboratórios farmacêuticos, como a Novartis, segunda colocada no período, com 77 artigos. Aparecem ainda empresas como Vale, IBM e Embraer.


Fica evidente que há espaço para o crescimento dessas parcerias. Elas interessam tanto às universidades como as indústrias, e permite maior financiamento privado às pesquisas desenvolvidas na academia. Isso não significa, entretanto, que todo o trabalho científico terá essa finalidade. Há necessidade, é claro, de autonomia para a definição de áreas e temas que serão estudados, sem que eles tenham necessariamente interesse e objetivo de servir ao setor privado, e que, em certos casos, possuem caráter essencialmente teórico.


Nesse sentido, é importante que sejam asseguradas verbas públicas para o fomento das pesquisas, por meio de agências governamentais, como a Capes, ligada ao Ministério da Educação, e o CNPq, do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. A combinação das duas fontes - pública e privada - é necessária e pode trazer grandes perspectivas para o futuro da pesquisa no Brasil.


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