Empregos destruídos

O quadro é difícil, mas as autoridades e o próprio empresariado não podem se render em tempos desafiadores

Por: Da Redação  -  29/05/20  -  12:13

A eliminação de mais de 10 mil empregos com registro em carteira no primeiro quadrimestre na Baixada Santista, dos quais 9,5 mil se referem a março e abril, revela o drama que se configura na região. O corte monumental é resultado da interrupção econômica provocada pelo isolamento social, mas poderia ter sido bem pior se o governo não tivesse disponibilizado programas, como redução proporcional da jornada e de salários com complementação com base no seguro-desemprego. Falta saber como será a economia do pós-pandemia – se reabsorverá todo esse pessoal ou se haverá uma recessão tamanha que acabará por enxugar ainda mais o mercado de trabalho. Frente a isso, o setor público terá que relegar a austeridade ao segundo plano para evitar uma crise social de grandes dimensões. 


Tais números serão parcialmente resolvidos assim que o isolamento social for dando espaço à atividade econômica, especialmente o comércio. Fica a incógnita de como se dará esse ritmo, tamanho o ineditismo dessa atual crise. Ainda não se tem ideia da proporção dos negócios que foram definitivamente fechados e qual será o fôlego na hora da retomada. O Governo do Estado postergou a reabertura na região alegando critérios técnicos, como continuidade das contaminações e baixa capacidade hospitalar, o que frustrou os empresários. Haverá ainda o momento em que o segmento varejista abrirá as portas sob restrições, com capacidade de atendimento reduzido, o que por si só desestimulará a retomada das contratações. Há ainda o fator psicológico, com o medo do desemprego que desestimula o consumo. Simultaneamente, o temor de se contaminar reduz a circulação de consumidores nos comércios. Péssimo para os lojistas físicos, mas beneficiando quem migrou para o segmento on-line – que emprega pouquíssimas equipes de venda.


O quadro é difícil e deve piorar, mas as autoridades e o próprio empresariado não podem se render em tempos desafiadores. A solução no lado estatal é manter amplos programas de recolocação de trabalhadores e até frentes de obras públicas, admitindo-se que há limitações devido ao período eleitoral que se aproxima e aos caixas públicos combalidos antes mesmo da pandemia. O caminho será pressionar o poder federal por recursos – a União é o único ente que possui artifícios de política econômica que podem ser utilizados neste momento emergencial. 


Há também iniciativas locais que podem ser tomadas, lembrando que o impacto do isolamento sinaliza uso mais intenso de novas tecnologias, como o teletrabalho e e-commerce. O Sebrae já desenvolve importantes programas nessas áreas, que apoiam a ponta mais frágil, o pequeno negócio. O trabalhador também precisa ser capacitado para saber utilizar ferramentas mais modernas, o que já deveria ter ocorrido antes. Mas neste País o ensino e a formação profissional sempre foram deixados de lado. Isso não é mais possível. 


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