Efeitos negativos da pandemia

Recuperação da economia, após queda da atividade neste ano, será mais lenta do que se supunha antes da atual crise

Por: Da Redação  -  23/04/20  -  19:58

Economistas discutem qual será a real dimensão da queda da atividade econômica provocada pela Covid-19 no Brasil. Instituições internacionais preveem recuo de 5% no PIB em 2020, mas as projeções de recuperação em 2021 variam: o FMI é mais otimista (crescimento de 2,9%) do que o Banco Mundial (avanço de apenas 1,5%), enquanto alguns analistas nacionais apostam em valores ainda maiores, que podem chegar e até superar 4%. 


O Banco Itaú está no lado mais positivo: estima queda menor do PIB neste ano (2,5%) e recuperação mais forte em 2021 (4,7%). O Banco Inter tem estimativas nessa mesma linha (recuo de 1,7% em 2020; crescimento em torno de 4% para 2021). Tais análises sustentam que as projeções de queda de 5% do PIB seriam exageradas, uma vez que a pandemia não tem tido a mesma intensidade da Europa e Estados Unidos.


É cedo para conclusões definitivas. Um fato, porém, é assumido por todos: a recuperação da economia, após a queda da atividade neste ano, será mais lenta do que se supunha antes da atual crise. A taxa de desocupação deve crescer três pontos percentuais ainda no primeiro semestre de 2020, chegando a 14,5% e, mesmo com as medidas de proteção ao emprego, elas não serão suficientes para impedir esse avanço.


E as consequências serão mais graves para os mais pobres. Projeções do Banco Mundial - baseadas no cenário em que o PIB brasileiro cairá 5% neste ano - mostram que a taxa de pobreza extrema deve aumentar de modo significativo em 2020, com 6,96% da população vivendo com renda até US$ 1,90 per capita por dia. Isso significa que mais 5,7 milhões de pessoas serão empurradas para essa condição caso o país não consiga ampliar seus programas sociais.


Quando se considera a taxa de pobreza (pessoas com renda de até US$ 5,50 per capita por dia), o quadro se repete: ela deve aumentar de 19,5% em 2019 para 22,4% em 2020, com mais 6,2 milhões de indivíduos. Especialistas alertam ainda que a crise econômica provocada pelas medidas de enfrentamento ao coronavírus deve aumentar a desigualdade de renda no Brasil, a exemplo do que acontecerá em todo o mundo.


O problema é que a situação brasileira, antes da pandemia, já revelava um quadro alarmante, que irá se agravar ainda mais. Isso não deve ser motivo para que sejam retomadas as atividades sem planejamento e cuidado, e é preciso estar atento sobre os riscos de uma epidemia se espalhando em larga escala em país de dimensões continentais e com tanta desigualdade.


Ao mesmo tempo em que devem ser tomadas medidas que possam garantir o isolamento social em comunidades mais carentes, e há várias delas que se organizaram com esse objetivo, devem continuar os programas voltados para o trabalhador informal e por conta própria, os mais vulneráveis nesse momento.


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